Descobrir a poesia é, para o poeta carioca Dante Milano, algo como um
passeio sadio ao nosso infantil interior, aquele espaço inspirador do qual
sempre lançamos mão quanto a vida sofre o perigo de peregrinar pelas veredas do
tédio.
Vê-se no poema de Milano a verve plenipotenciária da poesia, que é capaz
de estar ali onde o pensamento é um simples vagar, ou melhor, um vácuo de
palavras, um sentimento puro e não racionalizável, ininteligível, embora pleno
de expressividade.
J.A.R. – H.C.
Dante Milano
(1899-1991)
Descobrimento da Poesia
Quero escrever sem
pensar.
Que um verso
consolador
Venha vindo
impressentido
Como o princípio do
amor.
Quero escrever sem
saber,
Sem saber o que
dizer,
Quero escrever urna
coisa
Que não se possa
entender,
Mas que tenha um ar
de graça,
De pureza, de
inocência,
De doçura na
desgraça,
De descanso na
inconsciência.
Sinto que a arte já
me cansa
E só me resta a
esperança
De me esquecer do que
sou
E tornar a ser
criança.
(“Boletim de Ariel”, RJ,
1933)
O Poeta Favorito
(Sir Lawrence
Alma-Tadema: pintor holandês)
Referência:
MILANO, Dante. Descobrimento da poesia.
In: KOPKE, Carlos Burlamarqui. Antologia
da poesia brasileira moderna: 1922-1947. São Paulo, SP: Clube de Poesia de
São Paulo, 1953. p. 147.
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