Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de abril de 2015

Manuel González Prada - Ao Amor

Já tivemos aqui dois poemas-ensaios, de autores europeus, a tentar conceituar ou mesmo definir o que seja esse universal sentimento que é o amor: Camões e Quevedo, ambos com delicada escrita e mantida a mesma forma poética, vale dizer, o soneto, lançaram mão de abordagens antitéticas, às vezes paradoxais, para nos fazer ver que a percepção humana sobre o sentimento em apreço está longe de um consenso.

 

E há mais! Trazemos para lhes fazer companhia o grande ensaísta e poeta peruano Manuel González Prada, que os emula, ao configurar um soneto em seu poema sobre o mesmo tema, cheio de expressões antinômicas, em moldes similares aos dos vates da Ibéria. Será que o amor tem mesmo esse espírito de contradição?

 

J.A.R. – H.C.

 

Manuel González Prada

(1844-1918)

 

Al Amor

 

Si eres un bien arrebatado al cielo

¿Por qué las dudas, el gemido, el llanto,

La desconfianza, el torcedor quebranto,

las turbias noches de febril desvelo?

 

Si eres un mal en el terrestre suelo

¿Por qué los goces, la sonrisa, el canto,

las esperanzas, el glorioso encanto,

las visiones de paz y de consuelo?

 

Si eres nieve ¿Por qué tus vivas llamas?

Si eres llama ¿Por qué tu hielo inerte?

Si eres sombra ¿Por qué la luz derramas?

 

¿Por qué la sombra, si eres luz querida?

Si eres vida ¿Por que me das la muerte?

Si eres muerte ¿Por qué me das la vida? 

 

Tango do Amor

(Leonid Afremov: pintor israelense)

 

Ao Amor

 

Se és um bem ao céu arrebatado

Por que as dúvidas, o gemido, o pranto,

A desconfiança, o penoso quebranto,

as túrbidas noites de febril cuidado?

 

Se és um mal no terrestre solo

Por que os gozos, o sorriso, o canto,

as esperanças, o glorioso encanto,

as visões de paz e de consolo?

 

Se és neve, por que as tuas vivas chamas?

Se és chama, por que teu gelo inerte?

Se és sombra, por que a luz derramas?

 

Por que a sombra, sé és luz querida?

Se és vida, por que me dás a morte?

Se és morte, por que me dás a vida?

 

Referência:

 

PRADA, Manuel González. Al amor. In: ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía universal. Tomo III. América 2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 179-180.

 

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