Já
tivemos aqui dois
poemas-ensaios, de autores europeus, a tentar conceituar
ou mesmo definir o que seja esse universal sentimento que é o amor: Camões e
Quevedo, ambos com delicada escrita e mantida a mesma forma poética, vale dizer,
o soneto, lançaram mão de abordagens antitéticas, às vezes paradoxais, para nos
fazer ver que a percepção humana sobre o sentimento em apreço está longe de um
consenso.
E há
mais! Trazemos para lhes fazer companhia o grande ensaísta e poeta peruano
Manuel González Prada, que os emula, ao configurar um soneto em seu poema sobre
o mesmo tema, cheio de expressões antinômicas, em moldes similares aos dos
vates da Ibéria. Será que o amor tem mesmo esse espírito de contradição?
J.A.R.
– H.C.
Manuel González Prada
(1844-1918)
Al Amor
Si eres un bien arrebatado al cielo
¿Por qué las dudas, el gemido, el llanto,
La desconfianza, el torcedor quebranto,
las turbias noches de febril desvelo?
Si eres un mal en el terrestre suelo
¿Por qué los goces, la sonrisa, el canto,
las esperanzas, el glorioso encanto,
las visiones de paz y de consuelo?
Si eres nieve ¿Por
qué tus vivas llamas?
Si eres llama ¿Por
qué tu hielo inerte?
Si eres sombra ¿Por
qué la luz derramas?
¿Por qué la sombra, si eres luz querida?
Si eres vida ¿Por que me das la muerte?
Si eres muerte ¿Por qué me das la vida?
Tango do Amor
(Leonid Afremov: pintor israelense)
Ao Amor
Se és um bem ao céu arrebatado
Por que as dúvidas, o gemido, o pranto,
A desconfiança, o penoso quebranto,
as túrbidas noites de febril cuidado?
Se és um mal no terrestre solo
Por que os gozos, o sorriso, o canto,
as esperanças, o glorioso encanto,
as visões de paz e de consolo?
Se és neve, por que as tuas vivas chamas?
Se és chama, por que teu gelo inerte?
Se és sombra, por que a luz derramas?
Por que a sombra, sé és luz querida?
Se és vida, por que me dás a morte?
Se és morte, por que me dás a vida?
Referência:
PRADA,
Manuel González. Al amor. In:
ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía
universal. Tomo III. América 2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 179-180.
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