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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 19 de abril de 2015

Edgar Allan Poe - Traduções de “À Ciência”

Há alguns meses, postei aqui o poema “To Science” (“À Ciência”), do norte-americano Edgar Allan Poe. E como não havia, àquela altura, encontrado uma tradução ao português para o soneto, como se vê, desenvolvi a que o acompanha no referido endereço.

Mas eis que o tempo e as leituras se passaram e encontrei outras duas traduções, também rimadas, de semelhante valor. E desse modo, o leitor poderá avaliar como o texto do poema, originalmente em inglês, se transforma bastante, tornando-se quase um outro poema, com todos os recursos de que lançam mão os tradutores para enquadrá-lo ao léxico do idioma destinatário, mantendo-se, conforme o caso, as rimas, a métrica e a forma poética. Uma dificuldade!

J.A.R. – H.C.

Edgar Allan Poe: 1809-1849
(Gravura)

À Ciência
(Tradução de Milton Amado)

Ciência! Do velho tempo és filha predileta!
Tudo alteras, com o olhar que tudo inquire e invade!
Por que rasgas assim o coração do poeta,
abutre, que asas tens de triste realidade?

Poderia ele amar-te, achar sabedoria
em ti, se ousas cortar seu voo errante e ao léu
quando tenta extrair os tesouros do céu,
mesmo que a asa se eleve indômita e bravia?

Não furtaste à Diana o carro? E não forçaste
a Hamadríade do bosque a procurar, fugindo,
estrela mais feliz, que para sempre a esconda?

Não arrancaste à Ninfa as carícias da onda,
e ao Elfo a verde relva? E a mim não me roubaste
o sonho de verão ao pé do tamarindo?

Mundo da Ciência
Laura Zerebeski: pintora canadense

À Ciência
(Tradução de Paulo Vizioli)

Ciência! do Velho Tempo és a procriação!
Alteras tudo com o olhar que a tudo invade.
Por que rapinas do poeta o coração,
Abutre, alado co’a enfadonha realidade?

Como julgar-te sábia? ou verte sem desdouro,
Se não permites que ele vague pela altura
De joias recamada, à cata de um tesouro,
Embora a se elevar nas asas da loucura?

Não foi Diana, por ti, de seu carro lançada?
Não expulsaste a Dríada dos arvoredos,
Que em astro mais feliz buscou sua morada?

Tu não privaste a Náiada dos cursos ledos,
Da verde relva o Silfo, e a mim do sonho lindo,
O sonho de verão ao pé do tamarindo?

Referências:

POE, Edgar Allan. À ciência. Tradução de Milton Amado. In: __________. Ficção completa: poesia & ensaios. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. 1. ed. Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1965. p. 925.

POE, Edgar Allan. À ciência. Tradução de Milton Amado. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Antologia Bilíngue. Edição Comemorativa do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ: Lidador, 1974. p. 23.

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