Há alguns meses, postei aqui o poema
“To Science” (“À Ciência”), do norte-americano Edgar Allan Poe. E como não
havia, àquela altura, encontrado uma tradução ao português para o soneto, como
se vê, desenvolvi a que o acompanha no referido endereço.
Mas eis que o tempo e as leituras se passaram e encontrei outras duas
traduções, também rimadas, de semelhante valor. E desse modo, o leitor poderá
avaliar como o texto do poema, originalmente em inglês, se transforma bastante,
tornando-se quase um outro poema, com todos os recursos de que lançam mão os
tradutores para enquadrá-lo ao léxico do idioma destinatário, mantendo-se, conforme o caso, as rimas, a métrica e a forma
poética. Uma dificuldade!
J.A.R. – H.C.
Edgar Allan Poe: 1809-1849
(Gravura)
À Ciência
(Tradução de Milton
Amado)
Ciência! Do velho
tempo és filha predileta!
Tudo alteras, com o
olhar que tudo inquire e invade!
Por que rasgas assim
o coração do poeta,
abutre, que asas tens
de triste realidade?
Poderia ele amar-te,
achar sabedoria
em ti, se ousas
cortar seu voo errante e ao léu
quando tenta extrair
os tesouros do céu,
mesmo que a asa se
eleve indômita e bravia?
Não furtaste à Diana
o carro? E não forçaste
a Hamadríade do
bosque a procurar, fugindo,
estrela mais feliz,
que para sempre a esconda?
Não arrancaste à Ninfa
as carícias da onda,
e ao Elfo a verde
relva? E a mim não me roubaste
o sonho de verão ao
pé do tamarindo?
Mundo da Ciência
Laura Zerebeski:
pintora canadense
À Ciência
(Tradução de Paulo
Vizioli)
Ciência! do Velho
Tempo és a procriação!
Alteras tudo com o
olhar que a tudo invade.
Por que rapinas do
poeta o coração,
Abutre, alado co’a
enfadonha realidade?
Como julgar-te sábia?
ou verte sem desdouro,
Se não permites que
ele vague pela altura
De joias recamada, à
cata de um tesouro,
Embora a se elevar
nas asas da loucura?
Não foi Diana, por
ti, de seu carro lançada?
Não expulsaste a
Dríada dos arvoredos,
Que em astro mais
feliz buscou sua morada?
Tu não privaste a
Náiada dos cursos ledos,
Da verde relva o
Silfo, e a mim do sonho lindo,
O sonho de verão ao
pé do tamarindo?
Referências:
POE, Edgar Allan. À ciência. Tradução
de Milton Amado. In: __________. Ficção
completa: poesia & ensaios. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. 1.
ed. Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1965. p. 925.
POE, Edgar Allan. À ciência. Tradução
de Milton Amado. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Antologia Bilíngue. Edição Comemorativa do
Bicentenário da Independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de
Janeiro, RJ: Lidador, 1974. p. 23.
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