O poeta nos apresenta
uma visão caleidoscópica, ao mesmo tempo intricada e contraditória, da cidade
de Nova Iorque, plasmada na interação entre os seus elementos físicos – que a
caracterizam como sôfrega e suntuosa – e sociais – à luz de uma mirada crítica
às segmentações comunitárias e raciais tão ostensivas naquela metrópole, fontanário
de onde manam tanto a sua vitalidade e diversidade cultural, quanto as tensões que
pululam à flor da pele.
No renovo da face
ostensiva voltada à contemporaneidade, paulatinamente a urbe sempre perde algo
de seu passado. Mas nada que torne imprescindível a sua glorificação nostálgica
por meio do exagero ou da hipérbole: basta-lhe a própria existência, sua
energia caótica, sua paisagem urbana inconfundível, a resiliência de sua
identidade provocativa.
J.A.R. – H.C.
Archibald MacLeish
(1892-1982)
_____ &
Forty-Second Street
Be proud New-York of
your prize domes
And your docks &
the size of your doors & your dancing
Elegant clean big
girls & your
Niggers with narrow
heels & the blue on their
Bad mouths & your
bars & your automobiles
in the struck steel
light & your
Bright Jews &
your sorrow-sweet singing
Tunes & your
signs wincing out in the wet
Cool shine & the
twinges of
Green against
evening...
When the towns go
down there are stains of
Rust on the stone
shores and illegible
Coins and a rhyme
remembered of
swans, say,
Or birds or leaves or
a horse or fabulous
Bull forms or a
falling of gold upon
Softness.
Be proud City of
Glass of your
Brass roofs & the
bright peaks of your
Houses!
Town that stood to
your knees in the
Sea water be proud,
be proud,
Of your high gleam on
the sea!
Do they think,
Town,
They must rhyme your
name with the name of a
Talking beast that
the place of your walls be remembered?
In: “New Found Land”
(1930)
Cidade de Nova
Iorque: 42nd Street
(Dorrie Rifkin:
pintora norte-americana)
_____ & 42nd
Street
Orgulha-te, Nova
Iorque, de tuas cúpulas sem igual,
de tuas docas, da envergadura
de teus pórticos, de tuas
dançantes, graciosas,
impolutas e crescidas garotas, de teus
negros com saltos
estreitos, do azul em suas
bocas maléticas, de
teus bares, de teus automóveis
sob a luz de aço
batido, de teus
judeus brilhantes, de
tuas doces e tristonhas
melodias, de teus
anúncios que fremem em meio ao úmido
e frio esplendor, dos
aguilhões
do verde contra o
arrebol...
Quando as cidades declinam,
há manchas
ferruginosas no
pedregal das orlas, moedas
ilegíveis e uma
rememorada rima de
cisnes, digamos,
ou de pássaros, ou de
folhas, ou de um ginete, ou de fabulosas
formas de touro, ou
de uma garoa de ouro sobre a
brandura...
Orgulha-te, cidade de
vidro, de teus
tetos de bronze, dos
reluzentes pináculos de tuas
casas!
Cidade que se pôs de
joelhos ante as
águas do mar, orgulha-te
de teu intenso
esplendor sobre o mar!
Acaso se presume,
cidade,
que se deve rimar teu
nome com o nome de uma
besta falante, para
que seja evocado o lugar de tuas muralhas?
In: “Terranova”
(1930)
Referência:
MACLEISH, Archibald. _____
& forty-second street. In: __________. Collected poemas: 1917-1952. Cambridge, MA: The Riverside Press;
Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1952. p. 66.
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