Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Mario Benedetti - Defesa da Alegria

Com inusitadas combinações de palavras, “Defensa de la Alegría” (“Defesa da Alegria”), do uruguaio Mario Benedetti, surpreende e cativa o leitor pela atenção que a sua leitura demanda, uma vez que joga com vocábulos que transitam inopinadamente entre áreas distintas do conhecimento ou da experiência humana, como a biologia e o ateneu, o cálculo e a física, o sagrado e o profano, o sórdido e o sublime.

Afinal, tudo quanto existe se mostra capaz de atingir-nos em nossa alegria, oriundo que seja das interações externas, seja de nosso interno. Ora aumentando o nosso bem-estar, ora abreviando-o. E, sob tal contexto, caso deixemos que as circunstâncias nos atinjam, poderemos regredir à inanição, ao imobilismo, ao desânimo. E isso é o que o poeta espera que não aconteça, e luta com as palavras para nos manter alertas.

J.A.R. – H.C.

Mario Benedetti: 1920-2009
(Caricatura)

Defensa de la Alegría
                                a trini

Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miséria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardíacos
y de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
             y también de la alegría.

A Alegria da Vida
(Henri Matisse: 1869-1954)

Defesa da Alegria
                                 a trini

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas

defender a alegria como um princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos

defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias

defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e do cansaço
da obrigação de estar alegres

defender a alegria como uma certeza
defendê-la da ferrugem e da sujeira
da famosa pátina do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso

defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e das lástimas
do azar
             e também da alegria.

Referência:

BENEDETTI, Mario. Defensa de la alegría. In: __________. Antología poética. Introducción de Pedro Orgambide. Buenos Aires (AR): Editorial Sudamericana, 1994. p. 188-189.

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