Com inusitadas combinações de palavras, “Defensa de la Alegría” (“Defesa
da Alegria”), do uruguaio Mario Benedetti, surpreende e cativa o leitor pela
atenção que a sua leitura demanda, uma vez que joga com vocábulos que transitam
inopinadamente entre áreas distintas do conhecimento ou da experiência humana,
como a biologia e o ateneu, o cálculo e a física, o sagrado e o profano, o
sórdido e o sublime.
Afinal, tudo quanto existe se mostra capaz de atingir-nos em nossa
alegria, oriundo que seja das interações externas, seja de nosso interno. Ora
aumentando o nosso bem-estar, ora abreviando-o. E, sob tal contexto, caso
deixemos que as circunstâncias nos atinjam, poderemos regredir à inanição, ao
imobilismo, ao desânimo. E isso é o que o poeta espera que não aconteça, e luta
com as palavras para nos manter alertas.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti: 1920-2009
(Caricatura)
Defensa de la Alegría
a trini
Defender la alegría
como una trinchera
defenderla del escándalo
y la rutina
de la miséria y los
miserables
de las ausencias
transitorias
y las definitivas
defender la alegría
como un principio
defenderla del pasmo
y las pesadillas
de los neutrales y de
los neutrones
de las dulces infamias
y los graves
diagnósticos
defender la alegría
como una bandera
defenderla del rayo y
la melancolía
de los ingenuos y de
los canallas
de la retórica y los
paros cardíacos
y de las endemias y
las academias
defender la alegría
como un destino
defenderla del fuego
y de los bomberos
de los suicidas y los
homicidas
de las vacaciones y del
agobio
de la obligación de
estar alegres
defender la alegría
como una certeza
defenderla del óxido
y la roña
de la famosa pátina
del tiempo
del relente y del
oportunismo
de los proxenetas de
la risa
defender la alegría
como un derecho
defenderla de dios y
del invierno
de las mayúsculas y de
la muerte
de los apellidos y
las lástimas
del azar
y también de la alegría.
A Alegria da Vida
(Henri Matisse:
1869-1954)
Defesa da Alegria
a trini
Defender a alegria
como uma trincheira
defendê-la do
escândalo e da rotina
da miséria e dos
miseráveis
das ausências
transitórias
e das definitivas
defender a alegria
como um princípio
defendê-la do pasmo e
dos pesadelos
dos neutros e dos
nêutrons
das doces infâmias
e dos graves
diagnósticos
defender a alegria
como uma bandeira
defendê-la do raio e
da melancolia
dos ingênuos e dos
canalhas
da retórica e das
paradas cardíacas
das endemias e das
academias
defender a alegria
como um destino
defendê-la do fogo e
dos bombeiros
dos suicidas e dos
homicidas
das férias e do
cansaço
da obrigação de estar
alegres
defender a alegria
como uma certeza
defendê-la da
ferrugem e da sujeira
da famosa pátina do
tempo
do relento e do
oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria
como um direito
defendê-la de deus e
do inverno
das maiúsculas e da
morte
dos sobrenomes e das
lástimas
do azar
e também da alegria.
Referência:
BENEDETTI, Mario. Defensa de la
alegría. In: __________. Antología poética.
Introducción de Pedro Orgambide. Buenos Aires (AR): Editorial Sudamericana,
1994. p. 188-189.
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