Vamos a um belo poema de quem, no ocaso da vida, olha para trás e se
sente gratificado com o que lhe ocorreu ao longo da labuta, ainda que nem tudo
tenha sido “um mar de rosas”.
O poema, de autoria do mexicano Amado Nervo – pseudônimo do poeta Juan
Crisóstomo Ruiz de Nervo –, também se expressa por aquilo que se deduz das
entrelinhas: nenhum remorso ou arrependimento a assolar o espírito. Apenas o
que confere título à poesia: a diáfana sensação de paz.
J.A.R. – H.C.
Amado Nervo
(1870-1919)
En Paz
Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo,
Vida,
porque nunca me diste ni esperanza
fallida
ni trabajos injustos, ni pena
inmerecida.
Porque veo al final de mi rudo camino
que yo fuí el arquiteto de mi propio
destino;
que si extraje las mieles o la hiel de
las cosas
fué porque en ellas puse hiel o mieles
sabrosas:
cuando planté rosales, coseché siempre
rosas.
Cierto, a mis lozanías va a seguir el
invierno;
¡mas tu no me dijiste que Mayo fuese
eterno!
…Hallé sin duda largas las noches de
mis penas;
mas no me prometiste tú solo noches
buenas;
y en cambio tuve algunas santamente
serenas…
Amé, fuí amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos en paz!
Autorretrato aos 63 anos
(Rembrandt:
1606-1669)
Em Paz
Ó Vida! Bem perto de meu ocaso, eu te
bendigo,
porque nunca me deste nem esperança
falida
nem trabalhos injustos, nem pena
imerecida.
Porque vejo ao final de meu rude
caminho
que eu fui o arquiteto de meu próprio
destino;
que se extraí os méis ou o fel das coisas
foi porque nelas pus fel ou méis saborosos:
quando plantei roseiras, sempre rosas
colhi.
Certo, o inverno sobrevirá às minhas
louçanias;
mas tu não me disseste que Maio fosse
eterno!
...Achei longas, sem dúvida, as noites
de minhas penas;
mas tu não me prometeste somente noites
boas;
e em troca tive algumas santamente
serenas…
Amei, fui amado, o sol acariciou-me a
face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em
paz!
Referência:
NERVO, Amado. En paz. In: HERNÁNDEZ, José F.; ESTRELLA, Antonio H.
(compiladores). Poemas clásicos para
jóvenes: versos inolvidables de amor, muerte y esperanza. México, DF:
Selector, 1995. p. 130.
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