Eis um exemplar da denominada “poesia social” do poeta espanhol Gabriel
Celaya – “La Poesía Es un Arma Cargada de Futuro”, com tradução ao português
pelo lusitano José Bento –, que veio a lume em 1955, inserida que estava na obra
“Cantos Íberos”.
Há no poema muita atualidade, com matizes que vão da denúncia de uma
realidade opressiva e sem esperanças a um chamamento por compromisso e
engajamento. Uma poesia sobre o real e não sobre o ideal, sobre a responsabilidade
que decorre da liberdade que se assume, sobre a busca de superação do conflito
por meio de ações fraternas, sobre os modos de se comportar eticamente perante
os fatos da vida.
Di-lo-á sobre mais o quê o próprio internauta, depois de apreciá-la!
J.A.R. – H.C.
Gabriel Celaya: 1911-1991
(Caricatura)
La Poesía Es un Arma Cargada de Futuro
Cuando ya nada se
espera personalmente exaltante,
mas se palpita y se
sigue más acá de la conciencia,
fieramente
existiendo, ciegamente afirmado,
como un pulso que
golpea las tinieblas,
cuando se miran de
frente
los vertiginosos ojos
claros de la muerte,
se dicen las
verdades:
las bárbaras,
terribles, amorosas crueldades.
Se dicen los poemas
que ensanchan los
pulmones de cuantos, asfixiados,
piden ser, piden
ritmo,
piden ley para
aquello que sienten excesivo.
Con la velocidad del
instinto,
con el rayo del
prodigio,
como mágica
evidencia, lo real se nos convierte
en lo idéntico a sí
mismo.
Poesía para el pobre,
poesía necesaria
como el pan de cada
día,
como el aire que
exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto
somos dar un sí que glorifica.
Porque vivimos a golpes,
porque apenas si nos dejan
decir que somos quien
somos,
nuestros cantares no
pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el
fondo.
Maldigo la poesía
concebida como un lujo
cultural por los
neutrales
que, lavándose las
manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de
quien no toma partido hasta mancharse.
Hago mías las
faltas. Siento en mí a cuantos sufren
y canto respirando.
Canto, y canto, y
cantando más allá de mis penas
personales, me
ensancho.
Quisiera daros vida,
provocar nuevos actos,
y calculo por eso con
técnica qué puedo.
Me siento un
ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros
a España en sus aceros.
Tal es mi poesía:
poesía-herramienta
a la vez que latido
de lo unánime y ciego.
Tal es, arma cargada de
futuro expansivo
con que te apunto al
pecho.
No es una poesía gota
a gota pensada.
No es un bello
producto. No es un fruto perfecto.
Es algo como el aire
que todos respiramos
y es el canto que
espacia cuanto dentro llevamos.
Son palabras que todos
repetimos sintiendo
como nuestras, y
vuelan. Son más que lo mentado.
Son lo más necesario:
lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra son actos.
Lavadeiras em Sevilha
(Charles Frederic Ulrich: 1858-1908)
A Poesia É uma Arma Carregada de Futuro
Quando já nada se
espera de pessoalmente exaltante,
mas se palpita e se
continua para cá da consciência,
ferozmente existindo,
cegamente afirmando,
como um pulso que
lateja nas trevas,
quando se olham de
frente
os claros olhos
vertiginosos da morte,
dizem-se as verdades:
as bárbaras,
terríveis, amorosas crueldades.
Dizem-se os poemas
que dilatam os
pulmões de quantos, asfixiados,
pedem ser, pedem
ritmo,
pedem lei para o que
sentem excessivo.
Com a velocidade do
instinto,
com o raio do
prodígio,
como mágica
evidência, converte-se o real
no idêntico a si
mesmo.
Poesia para o pobre,
poesia necessária
como o pão de cada
dia,
como o ar que
exigimos treze vezes por minuto,
para ser e enquanto
somos dizer um sim que glorifica.
Porque vivemos de vez
em quando, porque mal nos deixam
dizer que somos quem
somos,
nossos cantos não
podem sem pecado ser um ornamento.
Estamos a tocar o
fundo.
Maldigo a poesia
concebida como um luxo
cultural pelos
neutrais
que lavando as mãos,
se desinteressam e evadem.
Maldigo a poesia de
quem não toma partido até manchar-se.
Faço minhas as
faltas. Sinto em mim quantos sofrem
e canto ao respirar.
Canto, canto, e a
cantar para além de minhas mágoas
pessoais, fico maior.
Quisera dar-vos vida,
provocar novos actos,
e calculo por isso
com técnica, que venço.
Sinto-me um
engenheiro do verso e um operário
que com outros
trabalha Espanha nos seus aços.
Assim é a minha
poesia: poesia-ferramenta
e ao mesmo tempo
pulsação do unânime e cego.
Assim é, arma
carregada de futuro expansivo
com que aponto ao
peito.
Não é uma poesia gota
a gota pensada.
Nem um belo produto.
Nem um fruto perfeito.
É algo como o ar que
todos respiramos
e é o canto que
difunde o que dentro levamos.
São palavras que
todos repetimos sentindo
como nossas, e voam.
São mais que o que elas dizem.
São o mais
necessário: o que não possui um nome.
São gritos no céu, e, na
terra, são actos.
Récita do poema pelo intérprete
Joan Manuel Serrat
Referências:
Em Espanhol
CELAYA, Gabriel. La poesía es un arma cargada de futuro. In: __________. Gabriel Celaya para niños. Edición preparada por María Asunción Mateo e ilustrada con dibujos del autor. 2. ed. Madrid, ES: Ediciones de la Torre, marzo.2001. p. 65-66. (Alba y Mayo)
Em Espanhol
CELAYA, Gabriel. La poesía es un arma cargada de futuro. In: __________. Gabriel Celaya para niños. Edición preparada por María Asunción Mateo e ilustrada con dibujos del autor. 2. ed. Madrid, ES: Ediciones de la Torre, marzo.2001. p. 65-66. (Alba y Mayo)
Em Português
CELAYA, Gabriel. A poesia é uma arma carregada de futuro. Tradução de Jose Bento. In: BENTO, José (Seleccão e Tradução). Antologia da poesia espanhola contemporânea. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 1985. p. 379-380.
Excetente. Pena não dar o crédito do tradutor
ResponderExcluirJosé Carlos
Prezado José Carlos,
ResponderExcluirO crédito da tradução se encontra no comentário inicial que fiz à postagem, em 6.2.2015, segundo o qual a tradução em apreço pertenceria ao poeta e tradutor português José Bento.
Um abraço.
João A. Rodrigues
Com lapso: falta 'gritos' no verso último...
ResponderExcluirDe fato, Albino, a palavra 'gritos' estava faltando na versão ao português. Valeu pela nota. Agora está consertado. Muito obrigado. Um abraço. João A. Rodrigues
ResponderExcluirNavegando na internet procurando por Celaya encontrei seu blog. Vivi na Espanha por 2 anos e conheci a poesia desse grande poeta basco e universal. Traduzi um pequeno trecho do poema "Los Niños Miran de Frente" que segue:
ResponderExcluir“Quando falo do futuro
Não ventilo utopias
Só penso no menino
Me mirando de frente
Sem medo, sorridente
Procurando pelo seu amanhã
Escavando os meus olhos”
Gabriel Celaya
Muito agradeço pelo seu comentário, Adriano: de fato, entre os vários poetas espanhóis contemporâneos, ele é um dos que mais sobressaem e um dos que mais aprecio, pela sua poesia positiva e compromissada. Grato também pelo excerto traduzido.
ExcluirUm abraço,
João A. Rodrigues