Vai aqui um conselho, sob a forma de poema, de autoria do poeta grego Konstantínos
Kaváfis, para que não tornemos as nossas vidas envilecidas pelo desmedido
comércio do mundo, nem a dissipemos em torpe exposição a conversas indignas.
O poema, datado de 1913, encontra-se nesta página do site
oficial dedicado a Kaváfis, em sua versão original em grego. Meio em tom
homilético, como se estivesse doutrinando os seus cativos leitores, o autor os
exorta para que elevem a mente a um nível superior de consciência, para que não
deixem a vida escoar entre os dedos, em experiências que não agreguem valor, em
mesquinharias, maledicências, talentos desperdiçados, vícios funestos.
Ousando conferir interpretação não tão parelha ao quanto prescreve
Kaváfis, sugerimos que você, internauta amigo(a), ao contrário de compulsar a
revista “Caras”, disponível em qualquer salão de beleza de quinta categoria da
cidade, vá até uma biblioteca e se entretenha, em alto nível, com as intrigas e
a arte da sedução de “As Relações Perigosas”, de Choderlos de Laclos. Percebeu
a diferença? Mesmo quando o tema são baixarias, elas podem ser assimiladas num
linguajar culto, a serviço da alta literatura (rs).
J.A.R. – H.C.
Konstantínos P. Kaváfis
(1863-1933)
Όσο Mπορείς
Κι αν δεν μπορείς να κάμεις την ζωή σου όπως την θέλεις,
τούτο προσπάθησε τουλάχιστον
όσο μπορείς: μην την εξευτελίζεις
μες στην πολλή συνάφεια του κόσμου,
μες στες πολλές κινήσεις κι ομιλίες.
Μην την εξευτελίζεις πηαίνοντάς την,
γυρίζοντας συχνά κ’ εκθέτοντάς την
στων σχέσεων και των συναναστροφών
την καθημερινήν ανοησία,
ώς που να γίνει σα μια ξένη φορτική.
O Quanto Possas
Se não podes afeiçoar
tua vida como queres,
deves ao menos
tentar, o quanto
possas, isto: não a
rebaixes
no excessivo comércio
do mundo,
no excesso de
palavras e de gestos.
Não a rebaixes
levando-a para dar
passeios, exibindo-a
o tempo todo
nas reuniões e
comemorações
em que a tolice
diária se compraz,
até fazeres dela uma
estranha importuna.
Referência:
KAVÁFIS, Konstantínos P. O quanto
possas. In: PAES, José Paulo (seleção e tradução). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 57-58.
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