Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Kaváfis - O Quanto Possas

Vai aqui um conselho, sob a forma de poema, de autoria do poeta grego Konstantínos Kaváfis, para que não tornemos as nossas vidas envilecidas pelo desmedido comércio do mundo, nem a dissipemos em torpe exposição a conversas indignas.

O poema, datado de 1913, encontra-se nesta página do site oficial dedicado a Kaváfis, em sua versão original em grego. Meio em tom homilético, como se estivesse doutrinando os seus cativos leitores, o autor os exorta para que elevem a mente a um nível superior de consciência, para que não deixem a vida escoar entre os dedos, em experiências que não agreguem valor, em mesquinharias, maledicências, talentos desperdiçados, vícios funestos.

Ousando conferir interpretação não tão parelha ao quanto prescreve Kaváfis, sugerimos que você, internauta amigo(a), ao contrário de compulsar a revista “Caras”, disponível em qualquer salão de beleza de quinta categoria da cidade, vá até uma biblioteca e se entretenha, em alto nível, com as intrigas e a arte da sedução de “As Relações Perigosas”, de Choderlos de Laclos. Percebeu a diferença? Mesmo quando o tema são baixarias, elas podem ser assimiladas num linguajar culto, a serviço da alta literatura (rs).

J.A.R. – H.C.

Konstantínos P. Kaváfis
(1863-1933)

Όσοορείς

Κι αν δεν μπορείς να κάμεις την ζωή σου όπως την θέλεις,
τούτο προσπάθησε τουλάχιστον
όσο μπορείς: μην την εξευτελίζεις
μες στην πολλή συνάφεια του κόσμου,
μες στες πολλές κινήσεις κι ομιλίες.

Μην την εξευτελίζεις πηαίνοντάς την,
γυρίζοντας συχνά κεκθέτοντάς την
στων σχέσεων και των συναναστροφών
την καθημερινήν ανοησία,
ώς που να γίνει σα μια ξένη φορτική. 


O Quanto Possas

Se não podes afeiçoar tua vida como queres,
deves ao menos tentar, o quanto
possas, isto: não a rebaixes
no excessivo comércio do mundo,
no excesso de palavras e de gestos.

Não a rebaixes levando-a para dar
passeios, exibindo-a o tempo todo
nas reuniões e comemorações
em que a tolice diária se compraz,
até fazeres dela uma estranha importuna. 


Referência:

KAVÁFIS, Konstantínos P. O quanto possas. In: PAES, José Paulo (seleção e tradução). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 57-58.

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