Um belo poema de Rumi, talvez o maior dos poetas místicos sufis, a
sugerir que renunciemos a todos os pensamentos, essa força que nos consome de
alto a baixo, verdadeiras armadilhas para o espírito.
Quantas noites perdidas em pensamentos acerca de presunções futuras que,
talvez, jamais aconteçam. Quanto cansaço que disso deriva, fazendo-nos levantar
combalidos por uma luta contra um anjo que se compraz em incitar o desejo
humano.
Não penses. Não penses. Os pensamentos têm o poder de nos levar a passeio pelas instâncias mediadoras da ação. E são nossas ações que externalizam para o mundo o que vai em nosso interno: os abismos do mal ou a epifania do divino.
J.A.R. – H.C.
Rumi
(1207-1273)
Não Penses
Não penses. Não
penses.
Os pensamentos são
como a chama
Que de alto a baixo
tudo consome.
Perde a razão,
endoidece de
embriaguez e assombro,
e de cada broto
nascerá a cana-de-açúcar.
A bravura é demência,
tira-a da cabeça, renuncia!
Como o leão e os
homens, renega vãs esperanças.
Os pensamentos são
armadilhas,
é proibido
desperdiçá-los.
Para que tanto
sacrifício por migalhas?
Se não te absténs
desse alimento,
é inútil querer
livrar-te de tais ardis.
Se a avidez reclama,
sê surdo aos seus apelos.
Referência:
RUMI, Jalal ud-Din. Não penses. In:
__________. Poemas místicos: Divan
de Shams de Tabriz. Seleção, tradução e introdução de José Jorge de Carvalho.
2. ed. São Paulo: Attar, 2010. p. 63.
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