Numa passagem que se pode expressar como “prosa poética”, Cesariny
retrata o “modus vivendi” de um gato comum: não exatamente como descreve, um
gato é, naturalmente, bem mais limpo que um cão, o qual, por usa vez, costuma urinar
pelos quatro cantos da casa, se não for exatamente educado. Quanto ao resto, de
fato, suas viagens noturnas são “incendiárias” e costumam “render” muitas
arremetidas ao luar (rs).
J.A.R. – H.C.
Mário Cesariny
(1923-2006)
O Gato Dito Doméstico ou de Lineu
Primo em linha recta do Gato Legível,
uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia,
eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O GATO urina com êxito
nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que
julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma
janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes
encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos
que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os
devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
[Manual de Prestidigitação]
A Cats Life
(Pollyanna Pickering:
n. 1942)
Referência:
CESARINY, Mário. O gato dito doméstico
ou de lineu. In: COSTA E SILVA, Alberto; BUENO, Alexei (Seleção e Introdução). Antologia da poesia portuguesa
contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999. p. 132.
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