Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mário Cesariny – O Gato Dito Doméstico ou de Lineu

Numa passagem que se pode expressar como “prosa poética”, Cesariny retrata o “modus vivendi” de um gato comum: não exatamente como descreve, um gato é, naturalmente, bem mais limpo que um cão, o qual, por usa vez, costuma urinar pelos quatro cantos da casa, se não for exatamente educado. Quanto ao resto, de fato, suas viagens noturnas são “incendiárias” e costumam “render” muitas arremetidas ao luar (rs).

J.A.R. – H.C. 
Mário Cesariny
(1923-2006)

O Gato Dito Doméstico ou de Lineu

Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O GATO urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
[Manual de Prestidigitação]

A Cats Life
(Pollyanna Pickering: n. 1942)

Referência:

CESARINY, Mário. O gato dito doméstico ou de lineu. In: COSTA E SILVA, Alberto; BUENO, Alexei (Seleção e Introdução). Antologia da poesia portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999. p. 132.
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