Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de julho de 2014

Satã (I): Luis Carlos López

Há poetas e prosadores que passam a vida a cantar loas a Satã, em aproximações que, muitas vezes, se mostram pândegas. Outras, nem tanto, são sérias e mais parecem paródias a algumas formas de preces religiosas. Um sacrilégio, diriam as almas profundamente pias.

Para explicitar o que ora dizemos, postaremos algumas poesias sobre o tema, tanto entre as originárias da pena de autores estrangeiros, quanto da lavra de escritores pátrios.

Comecemos com um soneto do poeta colombiano Luis Carlos López, repleto de ironia e isento de quaisquer idealismos: o viver uma vida comezinha não satisfaria as pretensões das hostes satânicas, que esperam algo diverso das ações capazes de satisfazer o concerto antagônico, ou de outro modo, hábeis para prover a redenção divina, tais como as que se comparam a um tigre a dilacerar tão impoluto rouxinol (rs)!

J.A.R. – H.C. 
Luis Carlos López
(1879-1950)

A Satán
Acude, rey infernal.
Fausto

Satán, te pido un alma sencilla y complicada
como la tuya. Un alma feliz en su dolor.
Tú gozas – y yo envidio tu alegre carcajada –
si un tigre, por ejemplo, se come a un ruiseñor.

¡Mi vida, esta mi vida te ofrece una trastada!...
– Mi vida, flor inútil sin tallo y sin olor,
se dobla mustiamente ya casi deshojada...
Y el tédio es un gusano peludo en esa flor.

¡Pensar diez disparates y hacer mil disparates!...
Pues tú, Satán, no ignoras que yo perdi el Camino,
y es triste – aqui en la tierra dei coco y dei café –

vivir como las cosas en los escaparates,
para de un aneurisma morir cual mi vecino...
¡Murió sentado en eso que llaman W.C.!

Arcanjo Miguel a Submeter Satã
(Guido Reni: 1575-1642)

A Satã

Acode, rei infernal.
Fausto

Satã, te peço uma alma simples e complicada
como a tua. Uma alma feliz em sua dor.
Tu gozas – e eu invejo tua alegre gargalhada –
se um tigre, por exemplo, comer um rouxinol.

Minha vida, esta minha vida te oferece uma traquinice!
– Minha vida, flor inútil sem haste e sem olor,
se dobra tristemente já quase desfolhada...
E o tédio é um verme peludo nessa flor. 

Pensar dez disparates e fazer mil disparates!...
Pois tu, Satã, não ignoras que eu perdi o Caminho,
e és triste – aqui na terra dei coco e dei café –

viver como as coisas nos mostruários,
para de um aneurisma morrer qual meu vizinho...
Morreu sentado nisso que chamam W.C.!

Referência:

LÓPEZ, Luis Carlos. Satán. In: __________. Obra poetica. Selección, prólogo, cronología y bibliografía de Guillermo Alberto Arévalo. Caracas (VE):  Bilbioteca Ayacucho, 1994. p. 81-82.

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