Há poetas e prosadores que passam a vida a cantar loas a Satã, em
aproximações que, muitas vezes, se mostram pândegas. Outras, nem tanto, são
sérias e mais parecem paródias a algumas formas de preces religiosas. Um sacrilégio,
diriam as almas profundamente pias.
Para explicitar o que ora dizemos, postaremos algumas poesias sobre o
tema, tanto entre as originárias da pena de autores estrangeiros, quanto da
lavra de escritores pátrios.
Comecemos com um soneto do poeta colombiano Luis Carlos López, repleto de
ironia e isento de quaisquer idealismos: o viver uma vida comezinha não
satisfaria as pretensões das hostes satânicas, que esperam algo diverso das
ações capazes de satisfazer o concerto antagônico, ou de outro modo, hábeis
para prover a redenção divina, tais como as que se comparam a um tigre a
dilacerar tão impoluto rouxinol (rs)!
J.A.R. – H.C.
Luis Carlos López
(1879-1950)
A Satán
Acude, rey infernal.
Fausto
Satán, te pido un
alma sencilla y complicada
como la tuya. Un alma
feliz en su dolor.
Tú gozas – y yo
envidio tu alegre carcajada –
si un tigre, por
ejemplo, se come a un ruiseñor.
¡Mi vida, esta mi vida
te ofrece una trastada!...
– Mi vida, flor
inútil sin tallo y sin olor,
se dobla mustiamente
ya casi deshojada...
Y el tédio es un
gusano peludo en esa flor.
¡Pensar diez
disparates y hacer mil disparates!...
Pues tú, Satán, no
ignoras que yo perdi el Camino,
y es triste – aqui en
la tierra dei coco y dei café –
vivir como las cosas
en los escaparates,
para de un aneurisma
morir cual mi vecino...
¡Murió sentado en eso
que llaman W.C.!
Arcanjo Miguel a Submeter Satã
(Guido Reni:
1575-1642)
A Satã
Acode, rei infernal.
Fausto
Satã, te peço uma
alma simples e complicada
como a tua. Uma alma
feliz em sua dor.
Tu gozas – e eu
invejo tua alegre gargalhada –
se um tigre, por
exemplo, comer um rouxinol.
Minha vida, esta
minha vida te oferece uma traquinice!
– Minha vida, flor
inútil sem haste e sem olor,
se dobra tristemente
já quase desfolhada...
E o tédio é um verme
peludo nessa flor.
Pensar dez disparates
e fazer mil disparates!...
Pois tu, Satã, não ignoras
que eu perdi o Caminho,
e és triste – aqui na
terra dei coco e dei café –
viver como as coisas
nos mostruários,
para de um aneurisma
morrer qual meu vizinho...
Morreu sentado nisso
que chamam W.C.!
Referência:
LÓPEZ, Luis Carlos. Satán. In: __________.
Obra poetica. Selección, prólogo,
cronología y bibliografía de Guillermo Alberto Arévalo. Caracas (VE): Bilbioteca Ayacucho, 1994. p. 81-82.
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