Mais um poeminho sobre uma ninhada de gatos. Três bichanos, dois machos
e uma fêmea, esperam ao léu a visitação periódica da mãe para o alimento
diário. Enquanto isso, morrem de medo ante o inesperado dos fatos. E com razão:
o fluir dos acontecimentos encerram prematuramente a vida de um deles – a do
gatinho a que o poeta denominou “Negro”.
J.A.R. – H.C.
Fiama H. P. Brandão
(1938-2007)
Epístola para uma Ninhada de Gatos
Chamo-te Negro e a ti
Ruço e a ti chamo-te Pérola.
Tais sobressaltos
têm, parecem temer a vida,
até lhes vir do Alto o
beijo do amor, elástico,
fosforescente de
olhos, com as tetas da abundância.
Anéis de tacto puro,
e liberdade eufórica,
sob o beijo da
espécie. Depois, ficam sós,
e novamente os medos,
ciladas, os meus mitos
temendo, perdem força
nesse corpo-a-corpo.
Negro, vi a tesoura
cortar o teu fio na roca!
Só o Ruço e a Pérola
hoje esperam Deus e o beijo.
[De: “Epístolas e
Memorandos”]
Referência:
BRANDÃO, Fiama Hasse Pais. Epístola
para uma ninhada de gatos. In: COSTA E SILVA, Alberto; BUENO, Alexei (Seleção e
Introdução). Antologia da poesia
portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999. p. 338.
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