O Prazer do Texto
“Poder-se-ia imaginar uma tipologia dos prazeres
de leitura – ou dos leitores de prazer; não seria sociológica, pois o prazer
não é um atributo nem do produto nem da produção; só poderia ser psicanalítica,
empenhando a relação da neurose leitora na forma alucinada do texto. O fetichista concordaria com o texto cortado, com a fragmentação das
citações, das fórmulas, das cunhagens, com o prazer da palavra. O obsessional teria a voluptuosidade da letra, das linguagens segundas,
desligadas, das metalinguagens (esta classe reuniria todos os logófilos,
linguistas, semióticos, filólogos: todos aqueles para quem a linguagem reaparece).
O paranoico consumiria ou produziria textos
retorcidos, histórias desenvolvidas como raciocínio, construções colocadas como
jogos, coerções secretas. Quando ao histérico (tão contrário ao
obsessional), seria aquele que toma o texto por dinheiro sonante,
que entra na comédia sem fundo, sem verdade, da linguagem, que já não é o
sujeito de nenhum olhar crítico e se joga através do texto (o que é muito
diferente do se projetar nele)”.
Roland Barthes
(1915-1980)
Referência:
BARTHES, Roland. O prazer do texto.
Tradução de J. Guinsburg. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 73-74.
÷ø
Nenhum comentário:
Postar um comentário