Vem
de Hördelin mais um poema sobre o belo, a fazer referência ao relacionamento
que tiveram Sócrates, o célebre filósofo ateniense, e o não menos famoso
general e político Alcibíades, seu conterrâneo.
É
notória a associação do poema à passagem que Platão imortalizou em “O
Banquete”: adentrando o recinto onde vários comensais já haviam elaborado
discursos a Eros, Alcibíades, já meio ébrio, foi instado a fazer o mesmo. E,
diversamente, a quem ele se propôs elogiar? Com todo o respeito (rs), passou a
tecer loas a Sócrates!
O
general, mais jovem e de reconhecida beleza, tenta seduzir Sócrates, buscando
enredá-lo em suas paixões – o que se há de interpretar como favores sexuais! –,
por meio de estratagemas que sequer tem pudor em descrevê-los a todos os
ouvintes.
Mas
talvez a principal preleção que se extrai do texto de Platão seja mesmo a de
que o verdadeiro amante não busca escravizar o amado, senão conduzi-lo a um
estágio de conhecimento mais elevado, assim como se, referindo-nos a desníveis
de pontos extremos do filete de água em vasos comunicantes, Sócrates fosse
capaz de equipará-los por meio de sua sabedoria.
Na
parte mais sugestiva de sua fala, Alcibíades compara Sócrates ao sátiro Mársias
– um tocador de flauta bastante qualificado –, assim como às figuras Silenus,
que por fora pareciam despojadas, simplórias até, mas eram ricas em seu
interior, pois ali comportavam esculturas de divindades.
À
parte as possibilidades eróticas das descrições, o general torna explícito o
poder de Sócrates em cativar os ouvintes com os seus argumentos, além de
elogiar o que lhe vai no interno, pois a segunda analogia que emprega não deixa
margem, por outro lado, a que se duvide do aspecto pouco atraente do filósofo.
Os
atos de resistência, de meditação e de bravura de Sócrates, presenciados em
várias oportunidades por seu orador-discípulo, encerram a exposição, como que a
sublinhar a singularidade de sua figura humana.
Por
ora, penso que baste como síntese. Para quem quiser ler tal discurso na
íntegra, ofereço referência ao final desta postagem.
J.A.R.
– H.C.
Sokrates und Alcibiades
“Warum huldigest du, heiliger Sokrates,
Diesem
Jünglinge stets? Kennest du Grösseres nicht?
Warum
siehet mit Liebe,
Wie
auf Götter, dein Aug’ auf ihn?”
Wer das Tiefste gedacht, liebt das
Lebendigste,
Hohe
Jugend versteht, wer in die Welt geblickt,
Und
es neigen die Weisen
Oft
am Ende zu Schönem sich.
Alcibíades Sendo Ensinado por Sócrates
François-André Vincent (1746-1816)
Sócrates
e Alcibíades
“Por
que, divino Sócrates,
Te
mostras tão obsequioso com este jovem? Não conheces algo mais sublime?
Por
que o contemplas com amor,
Tal
como o fazemos com os deuses?”
Quem
pensa com profundidade, ama o mais vivaz;
Depois
de bem divisar o mundo,
Compreendemos
o que seja a virtude.
E
amiúde os sábios se inclinam até a beleza.
Referências:
HÖLDERLIN, Friedrich. Sokrates und
Alcibiades. In: __________. Poesía completa. Edición bilingüe.
Madrid, Barcelona: Ediciones 29, 1977. p. 124-127.
PLATÃO.
O banquete. In: __________. Diálogos: O banquete, Fédon, Sofista, Político.
Traduções de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Victor Civita, 1972. p.
52-58. (Coleção Os Pensadores)
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