Dando continuidade aos ‘posts’ cuja
temática é a beleza, transcevo, em seguida, o poema “True Beauty”, do poeta Edmund
Spenser, também da terra de Shakespeare. Logo após, ofereço uma tradução para o
português.
True
Beauty
Men call you fair, and you do
credit it,
For that yourself you daily
such do see;
But the true fair, that is
the gentle wit
And virtuous mind, is much
more praised of me.
For all the rest, however
fair it be,
Shall turn to naught, and
lose that glorious hue;
But only that is permanent
and free
From frail corruption, that
doth flesh ensue.
That is true beauty, that
doth argue you
To be divine, and born of
heavenly seed;
Deriv’d from that fair spirit
from whom all true
And perfect beauty did at
first proceed.
He only fair, and what he
fair hath made;
All other fair, like flowers,
untimely fade.
Andrea
Mantegna (1431-1506)
Verdadeira
Beleza
Os homens chamam-te bela, e
nisso pões fé,
Porque diariamente te vês
como tal;
Mas o belo verdadeiro, que é
o espírito nobre
E a mente virtuosa, parece-me
muito mais louvável.
Ainda que sejas bela para
todos os demais,
Tornar-te-ás nada pela perda
do glorioso matiz;
Mas só o que é permanente e
livre
Da frágil corrupção,
sobrevive à carne.
Essa é a verdadeira beleza,
que argumentam
Ser divina e nascida de
celestial semente;
Derivada daquele espírito
belo, do qual toda a verdade
E perfeita beleza procedem de
início.
Somente Ele é belo, e o que
tem feito;
Tudo o mais, como as flores,
finda prematuramente.
Há neste poema de Spenser o pertinaz
alerta de que devemos atribuir maior importância ao caráter de alguém, ao que
lhe vai no íntimo, à personalidade; e bem menos relevo à sua aparência ou
beleza externa, porque esta desvanecerá com o tempo. Algo meio parecido com
aquele trecho de uma composição do Gilberto Gil, “Amo Tanto Viver”: “A beleza,
que é presa do tempo, mas eterna no ser!”.
Notam-se, ademais, certos substratos de
ideias cristãs, especialmente no segundo terceto – a genuína beleza emana de
Deus –, mesclados com conceitos platônicos, do belo enquanto virtude, verdade e
nobreza de espírito.
J.A.R. – H.C.
Referência:
HOUSMAN,
Robert Fletcher. A collection of english
sonnets. London: Whittaker and Co., Ave-Maria Lane; Manchester: Bancks and
Co., 1835. p. 16.
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