Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 6 de abril de 2014

Edmund Spenser - Verdadeira Beleza

Dando continuidade aos ‘posts’ cuja temática é a beleza, transcevo, em seguida, o poema “True Beauty”, do poeta Edmund Spenser, também da terra de Shakespeare. Logo após, ofereço uma tradução para o português.


True Beauty

Men call you fair, and you do credit it,
For that yourself you daily such do see;
But the true fair, that is the gentle wit
And virtuous mind, is much more praised of me.

For all the rest, however fair it be,
Shall turn to naught, and lose that glorious hue;
But only that is permanent and free
From frail corruption, that doth flesh ensue.

That is true beauty, that doth argue you
To be divine, and born of heavenly seed;
Deriv’d from that fair spirit from whom all true

And perfect beauty did at first proceed.
He only fair, and what he fair hath made;
All other fair, like flowers, untimely fade.


O Triunfo das Virtudes
Andrea Mantegna (1431-1506)

Verdadeira Beleza

Os homens chamam-te bela, e nisso pões fé,
Porque diariamente te vês como tal;
Mas o belo verdadeiro, que é o espírito nobre
E a mente virtuosa, parece-me muito mais louvável.

Ainda que sejas bela para todos os demais,
Tornar-te-ás nada pela perda do glorioso matiz;
Mas só o que é permanente e livre
Da frágil corrupção, sobrevive à carne.

Essa é a verdadeira beleza, que argumentam
Ser divina e nascida de celestial semente;
Derivada daquele espírito belo, do qual toda a verdade

E perfeita beleza procedem de início.
Somente Ele é belo, e o que tem feito;
Tudo o mais, como as flores, finda prematuramente.

Há neste poema de Spenser o pertinaz alerta de que devemos atribuir maior importância ao caráter de alguém, ao que lhe vai no íntimo, à personalidade; e bem menos relevo à sua aparência ou beleza externa, porque esta desvanecerá com o tempo. Algo meio parecido com aquele trecho de uma composição do Gilberto Gil, “Amo Tanto Viver”: “A beleza, que é presa do tempo, mas eterna no ser!”.

Notam-se, ademais, certos substratos de ideias cristãs, especialmente no segundo terceto – a genuína beleza emana de Deus –, mesclados com conceitos platônicos, do belo enquanto virtude, verdade e nobreza de espírito.

J.A.R. – H.C.

Referência:

HOUSMAN, Robert Fletcher. A collection of english sonnets. London: Whittaker and Co., Ave-Maria Lane; Manchester: Bancks and Co., 1835. p. 16.

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