Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 14 de abril de 2014

XXXVI - O Gato (Charles Baudelaire)

  

Voltamos a navegar nas páginas da obra-prima de Baudelaire, “As Flores do Mal”, para de lá extrair três – ou seriam, com mais propriedade, quatro?! – poemas a tratarem do felídeo que já nos acompanha há centúrias, nos mais prosaicos contratempos humanos. E Iniciemos com o soneto numerado como o poema XXXVI (36) da precitada criação artística.

Nele, o bichano é adjetivado como elétrico, elástico, trigueiro e de belos olhos. É o que se depreende das duas traduções apresentadas: uma clássica e, por isso, mais afeita aos ambientes acadêmicos – de autoria do poeta paulista Jamil Almansur Haddad –, e outra com linguagem acessível e mais contemporânea – do carioca Ivan Junqueira.

J.A.R. – H.C.

Le Chat

Viens, mon beau chat, sur mon coeur amoureux;
Retiens les griffes de ta patte,
Et laisse-moi plonger dans tes beaux yeux,
Mêlés de métal et dagate.

Lorsque mes doigts caressent à loisir
Ta tête et ton dos élastique,
Et que ma main senivre du plaisir
De palper ton corps électrique,

Je vois ma femme en esprit. Son regard,
Comme le tien, aimable bête
Profond et froid, coupe et fend comme un dard,

Et, des pieds jusques à la tête,
Un air subtil, un dangereux parfum
Nagent autour de son corps brun.


O Gato (Tradução de Jamil Almansur Haddad)

Meu gato, vem, ao meu peito amoroso;
Contém as garras afinal,
E que eu mergulhe em teu olhar, formoso,
Que é feito de ágata e metal.

Se os meus dedos afagam no lazer
Tua testa e teu dorso elástico,
Se a minha mão se embriaga de prazer
De palpar o teu corpo elétrico,

Em espírito a vejo. Seu olhar
Tão amável como tu és
É como frios dardos a cortar.

E da cabeça até os pés
Um ar sutil, um perfume traiçoeiro
Nadando-lhe em torno do corpo trigueiro.

BAUDELAIRE, Charles. O gato. In: __________. As flores do mal. Tradução de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p. 145.

O Gato (Tradução de Ivan Junqueira)

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés à cabeça, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

BAUDELAIRE, Charles. O gato. In: __________. As flores do mal. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 185.
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