Vimos presentear os leitores deste blog com mais um poema sobre gatos,
ou melhor, sobre uma certa gata que entrou na história de vida do poeta e
pedagogo português João de Deus de Nogueira Ramos, ou simplesmente João de
Deus.
Ele, como muitos outros poetas e escritores ilustres, soube usufruir da
companhia independente de um felino domesticado. Consigne-se que alguns gatos
ficaram famosos na história pelos nomes próprios que lhes foram atribuídos por
seus donos. Exemplos: Belaud, o gato do poeta francês Du Bellay; Marlamain, da
duquesa du Maine; Grisette, da poetisa Mme. Deshoulières; Ménine, a gata da
Mme. de Lesdiguières; Lucifer, Trèsbé e Serpolet, pertencentes a Richelieu;
Polémon, de Saint Beuve; Fanfan, de Theodoro Barrière; Chamoine, de Victor Hugo
etc.
Muitos desses nomes irromperam nas páginas da literatura, como o
comprovaremos numa postagem vindoura, na qual faremos constar dois poemas de
autoria de Joachim Du Bellay: um soneto para uma gata que, como a de Mme. de
Lesdiguières, chamava-se Ménine, e um epitáfio ao seu gato Belaud.
Guimarães Rosa e seus Gatos de Raça
(1908-1967)
Os gatos, entre nós, parecem ter sido objeto de predileção por parte do
grande escritor, médico e diplomata mineiro Guimarães Rosa, pois em uma de suas
mais famosas fotografias, a que reproduzimos acima, deixou-se capturar pela
câmera em sua mesa de trabalho, abraçado com os seus gatos de raça.
Assim, pelos nomes das figuras que ora citamos, gente reputada e instruída,
não deixam de ser enigmáticos os sentimentos de afeto e a atração que os bichanos
logram despertar em seus amos. Freud ousaria explicá-los?! (rs).
J.A.R. – H.C.
João de Deus de Nogueira
Ramos
(1830-1896)
A Uma Gata
Tu só, pobre animal,
beijas o triste!
Tu que o rato
devoras, e que os dentes
Tens afiados para
quanto existe!
Caprichosa exceção!
Dize: que sentes?
Amas, pobre animal! e
tens tu pena,
Sim, pode na tua alma
entrar piedade?
Se pode entrar eu
sei! Negar quem há-de
Amor ao tigre,
coração à hiena!
Tudo no mundo sente:
o ódio é prêmio
Dos condenados só que
esconde o Inferno.
Tudo no mundo sente:
a mão do Eterno
A tudo deu irmão, deu
par, deu gêmeo.
A mim deu-me esta
gata, a mim deu-me isto.
Esta fera, que as
unhas encolhendo
Pelos ombros me trepa
e vem, correndo,
Beijar-me… Só não
vivo! Amado existo!
DEUS, João de. A uma gata. In: FARACO,
Sérgio. Livro dos poemas. Porto
Alegre: L&PM Pocket, 2013. p. 584. (Série Ouro)
ö
Nenhum comentário:
Postar um comentário