Os excertos abaixo, extraídos do livro “A Morte
da Economia”, de Paul Ormerod, são eloquentes no que concerne aos problemas de
que padece a Economia enquanto ciência não propriamente do ramo de exatas, como
pretendem algumas linhas de pesquisa exacerbadamente matematizadas. Para
refletir...
J.A.R. – H.C.
ORMEROD, Paul. A morte da economia. Tradução
de Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Pág. 15:
“Sociólogos e psicólogos documentaram muitos
estudos de caso a respeito das reações de certos grupos diante da comprovação
de que sua visão de mundo estava errada. Nessas situações, longe de reconhecer
o problema, uma reação comum dos indivíduos é intensificar o fervor de sua
crença”.
Pág. 119:
“Os modelos podem parecer impressionantes e
intimidadores quando suas especificações matemáticas são colocadas no papel,
mas, quando usados para fazer previsões, são tão pouco confiáveis que, no mundo
inteiro, praticamente nenhum especialista ousa confiar no seu próprio
trabalho”.
Pág. 121:
“De muitas maneiras, os modelos se parecem com
as tarântulas. Em ambos os casos é necessária uma manipulação cuidadosa, mas,
no caso das aranhas, não apenas pela razão mais óbvia. Pois, se as pessoas que
as manipulam perderem o controle e deixarem-nas cair, elas explodem. Essas
interessantes criaturas usam a pressão hidráulica para estender as pernas e seu
fluído é expelido com o impacto. Da mesma forma, os macromodelos têm um
fascínio particular, e uma tendência a explodir”.
Pág. 226:
“Cada vez mais, as ferramentas matemáticas da
não-linearidade, requeridas pela análise desses fenômenos, são aplicadas em
ciências como a biologia, a química e a física, possibilitando insights novos e
profundos. As implicações para a análise econômica são da maior importância.
Apesar de toda a sua aparente sofisticação
matemática, o cerne do modelo da economia teórica, o equilíbrio geral
competitivo, baseia-se numa visão inteiramente equivocada do mundo moderno. Os
preceitos comportamentais derivados de um indivíduo autônomo e determinista
numa ilha deserta, o Homem Racional Econômico idealizado pela teoria ortodoxa,
não se aplica en masse aos seres humanos de uma grande
economia moderna.
O macrocomportamento das economias modernas é,
por si, um estudo legítimo, e é absolutamente improvável que o comportamento
dessas economias seja derivado da extrapolação do comportamento individual
maximizado até a escala global”.
Pág. 227:
“Uma característica essencial dos sistemas
não-lineares é que o comportamento do sistema como um todo pode ser sensível a
variações do meio ambiente global. No decorrer do tempo, o sistema dispõe de
muitas trajetórias de solução em potencial. Qualquer trajetória real que seja
percorrida, entre as miríades de trajetórias potenciais que poderiam ter sido
seguidas, não corresponderá, exceto por uma grande coincidência, àquela que
teria sido escolhida pela maximização ótima global do comportamento de
indivíduos 'racionais'.
Essa sensibilidade potencial tem mais uma
implicação. A derivação de leis gerais para controle e benefício do sistema,
que sejam válidas em toda parte e em todos os momentos, é difícil, senão
impossível, refutando assim a afirmação arrogante do modelo econômico do
equilíbrio gera”.
Pág. 228:
“A sociedade humana, principalmente na esfera
política, constitui um sistema não-linear de complexidade inusitada, de certa
forma muito mais complexa do que o mundo físico. Um número muito grande de
fatores pode ser importante a qualquer momento”.
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