A Dança do Fogo dos Índios Navajos
“Os navajos do Novo México preparam uma enorme
fogueira em torno da qual dançam a noite toda. Entre o pôr e o nascer do sol,
onze atos definidos são representados. Tão logo desaparece o disco solar, seus
promotores adentram a clareira dançando freneticamente. Apresentam-se quase nus
e com o corpo pintado; os cabelos longos, eles os deixam movimentar-se
livremente. Carregam bastões de dança com penachos na ponta e, em saltos
frenéticos, aproximam-se das elevadas chamas. Esses índios dançam de uma forma
desajeitadamente contida, meio de cócoras, meio rastejando. Na realidade, a
fogueira é tão quente que os dançarinos têm de serpentear pelo chão a fim de
aproximar-se suficientemente do fogo. O que querem é pôr fogo nas penas que
adornam os bastões de dança. Um disco, representando o sol, é alçado ao alto, e
em torno dele tem prosseguimento a dança frenética. Cada vez que o disco é
baixado e reerguido uma nova dança principia. Perto do pôr do sol, as
cerimônias sagradas aproximam-se do seu fim. Homens pintados de branco
adiantam-se e acendem pedaços de cascas na brasa já a se extinguir; depois,
numa caçada selvagem, põem-se novamente a saltar em torno do fogo, lançando
fagulhas, fumaça e chamas pelo próprio corpo. Saltam verdadeiramente em meio às
brasas, confiando na argila branca que lhes há de proteger o corpo de
queimaduras mais graves”.
Elias Canneti
(1905-1994)
Referência:
CANNETI, Elias. Massa e poder. 1ª
Reimpressão. Tradução de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras,
2005. p. 77-78.
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