Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Elias Canetti – Ruse


RUSE - BULGÁRIA


A Dança do Fogo dos Índios Navajos

 

“Os navajos do Novo México preparam uma enorme fogueira em torno da qual dançam a noite toda. Entre o pôr e o nascer do sol, onze atos definidos são representados. Tão logo desaparece o disco solar, seus promotores adentram a clareira dançando freneticamente. Apresentam-se quase nus e com o corpo pintado; os cabelos longos, eles os deixam movimentar-se livremente. Carregam bastões de dança com penachos na ponta e, em saltos frenéticos, aproximam-se das elevadas chamas. Esses índios dançam de uma forma desajeitadamente contida, meio de cócoras, meio rastejando. Na realidade, a fogueira é tão quente que os dançarinos têm de serpentear pelo chão a fim de aproximar-se suficientemente do fogo. O que querem é pôr fogo nas penas que adornam os bastões de dança. Um disco, representando o sol, é alçado ao alto, e em torno dele tem prosseguimento a dança frenética. Cada vez que o disco é baixado e reerguido uma nova dança principia. Perto do pôr do sol, as cerimônias sagradas aproximam-se do seu fim. Homens pintados de branco adiantam-se e acendem pedaços de cascas na brasa já a se extinguir; depois, numa caçada selvagem, põem-se novamente a saltar em torno do fogo, lançando fagulhas, fumaça e chamas pelo próprio corpo. Saltam verdadeiramente em meio às brasas, confiando na argila branca que lhes há de proteger o corpo de queimaduras mais graves”.


Elias Canneti

(1905-1994) 

 

Referência:

CANNETI, Elias. Massa e poder. 1ª Reimpressão. Tradução de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 77-78.

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