Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de abril de 2014

A Beleza – Shakespeare

Shakespeare, sempre Shakespeare, foi autor, como muitos, de um soneto cujo nome é “Beleza” (Beauty) [1] – exatamente o de nº LIV (54) –, com a seguinte escrita no idioma em que o bardo se expressou com o maior domínio:
Beauty
O! How much more doth Beauty beauteous seem,
By that sweet ornament which Truth doth give!
The Rose looks fair, but fairer we it deem
For that sweet odour which doth in it live.
The cankerblooms have full as deep a dye
As the perfumed tincture of the roses,
Hang on such thorns, and play as wantonly,
When Summer’s breath their masked buds discloses.
But, (for their virtue only is their show)
They live unwoo’d, and unrespected fade;
Die to themselves. Sweet roses do not so:
Of their sweet deaths are sweetest odours made;
And so of you, beauteous and lovely youth,
When that shall fade, my verse distills your truth.


Encontrei, na internet, três traduções para esse mesmo soneto, embora em apenas uma há a atribuição de sua autoria: o abaixo transcrito, que seria de Thereza Christina Rocque da Motta, advogada e poetisa carioca, conforme consta neste endereço.
Beleza
Ó, muito mais linda parece a beleza
Docemente ornada pela verdade!
A rosa é linda, mas a julgamos ainda mais bela
Pelo suave odor que exala.
As rosas silvestres têm o mesmo tom
Que as rosas perfumadas e coloridas,
Presas a seus espinhos, e brincam, voluptuosas,
Quando o hálito do verão as abre em botão;
Mas, como a aparência é sua única virtude,
Vivem esquecidas, e murcham abandonadas –
Morrendo solitárias. Doces rosas não fenecem;
De suas ternas mortes exalam os mais doces perfumes,
Assim como de ti, linda e amável donzela,
Ao feneceres, tua verdade destilará nos versos.
Uma segunda tradução, sem o nome de seu autor, consta neste outro endereço:
Beleza
Ah, quanto mais a beleza parece bela,
Com aquele doce ornamento que o dá a verdade!
A rosa parece bela, mas mais bela a estimamos
Por causa daquele doce odor que nela vive.
As parasitas nas plantas têm um tom tão profundo
Quanto a tintura perfumada das rosas.
Também possuem tais espinhos e igualmente lascivas,
Quando o hálito do verão revela os seus botões mascarados:
Mas, apenas para sua virtude são suas aparências,
Elas, sem serem desejadas, vivem e, desrespeitadas, murcham;
Morrem por si mesmas. Doces rosas assim não o fazem;
De suas doces mortes são os perfumes mais doces feitos:
E assim tu, linda e bela jovem,
Quando tudo isso fenecer, com versos tua verdade será destilada.
Por fim, a terceira, neste endereço:
Beleza
Ó, quanto mais bela é a beleza
Se tem a verdade por doce ornato;
A rosa, se admirável, mais se admira
Pela doce fragrância que exala.
As flores de sarça luzem matizes
Profundos, qual a rosa perfumada;
Também têm espinhos e saltitam
Se a brisa entreabre os seus botões;
Mas toda sua virtude é aparência:
Germinam apartadas, murcham,
E morrem sozinhas. Mas a rosa deixa
Um doce aroma depois de sua doce morte.
E tu, jovem bela e adorável,
Se te esgotas, aqui estás destilada.
Uma palavra final: a associação de beleza e verdade, que aparece nos primeiros versos deste soneto de Shakespeare, fez-me lembrar passagem de semelhante teor no poema “Ode a uma Urna Grega”, do também britânico John Keats.
“Beleza é verdade; verdade é beleza: isto é tudo o que conheceis sobre a terra, e é tudo o que precisais conhecer”, tal é o trecho tantas vezes repetido pelo mitólogo norte-americano Joseph Campbell em inúmeras de suas obras, “Mitologia Criativa” entre elas, uma de minhas leituras recentes...
A metáfora de Shakespeare surge bem explícita ao final de seu poema: como as rosas que, emurchecidas, são empregadas em perfumes e, desse modo perduram; assim a beleza do humano, que se protrai no tempo, mesmo com o advento da morte, pelo poder de subsistir que a verdade encerra.
J.A.R.-H.C.
Referência:
[1]. HOUSMAN, Robert Fletcher. A collection of english sonnets. London: Whittaker and Co., Ave-Maria Lane; Manchester: Bancks and Co., 1835. p. 26.

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