Shakespeare, sempre
Shakespeare, foi autor, como muitos, de um soneto cujo nome é “Beleza” (Beauty) [1] – exatamente o de nº LIV (54) –, com a seguinte escrita no idioma em que o bardo
se expressou com o maior domínio:
Beauty
O! How much more doth Beauty beauteous seem,
By that sweet ornament which Truth doth give!
The Rose looks fair, but fairer we it deem
For that sweet
odour which doth in it live.
The cankerblooms have full as deep a dye
As the perfumed tincture of the roses,
Hang on such thorns, and play as wantonly,
When Summer’s
breath their masked buds discloses.
But, (for their virtue only is their show)
They live unwoo’d, and unrespected fade;
Die to themselves.
Sweet roses do not so:
Of their sweet deaths are sweetest odours made;
And so of you, beauteous and lovely youth,
When that shall
fade, my verse distills your truth.
Encontrei, na internet,
três traduções para esse mesmo soneto, embora em apenas uma há a atribuição de
sua autoria: o abaixo transcrito, que seria de Thereza Christina Rocque da
Motta, advogada e poetisa carioca, conforme consta neste endereço.
Beleza
Ó, muito mais linda
parece a beleza
Docemente ornada pela
verdade!
A rosa é linda, mas a
julgamos ainda mais bela
Pelo suave odor que exala.
As rosas silvestres
têm o mesmo tom
Que as rosas
perfumadas e coloridas,
Presas a seus
espinhos, e brincam, voluptuosas,
Quando o hálito do verão as abre em
botão;
Mas, como a aparência
é sua única virtude,
Vivem esquecidas, e
murcham abandonadas –
Morrendo solitárias. Doces rosas não
fenecem;
De suas ternas mortes
exalam os mais doces perfumes,
Assim como de ti,
linda e amável donzela,
Ao feneceres, tua verdade destilará nos
versos.
Uma segunda tradução,
sem o nome de seu autor, consta neste outro endereço:
Beleza
Ah, quanto mais a
beleza parece bela,
Com aquele doce
ornamento que o dá a verdade!
A rosa parece bela,
mas mais bela a estimamos
Por causa daquele doce odor que nela
vive.
As parasitas nas
plantas têm um tom tão profundo
Quanto a tintura
perfumada das rosas.
Também possuem tais
espinhos e igualmente lascivas,
Quando o hálito do verão revela os seus
botões mascarados:
Mas, apenas para sua
virtude são suas aparências,
Elas, sem serem
desejadas, vivem e, desrespeitadas, murcham;
Morrem por si mesmas. Doces rosas assim
não o fazem;
De suas doces mortes
são os perfumes mais doces feitos:
E assim tu, linda e
bela jovem,
Quando tudo isso fenecer, com versos
tua verdade será destilada.
Por fim, a terceira, neste endereço:
Beleza
Ó, quanto mais bela é
a beleza
Se tem a verdade por
doce ornato;
A rosa, se admirável,
mais se admira
Pela doce fragrância que exala.
As flores de sarça
luzem matizes
Profundos, qual a
rosa perfumada;
Também têm espinhos e
saltitam
Se a brisa entreabre os seus botões;
Mas toda sua virtude
é aparência:
Germinam apartadas,
murcham,
E morrem sozinhas. Mas a rosa deixa
Um doce aroma depois
de sua doce morte.
E tu, jovem bela e
adorável,
Se te esgotas, aqui estás destilada.
Uma palavra final: a
associação de beleza e verdade, que aparece nos primeiros versos deste soneto
de Shakespeare, fez-me lembrar passagem de semelhante teor no poema “Ode a uma
Urna Grega”, do também britânico John Keats.
“Beleza é verdade;
verdade é beleza: isto é tudo o que conheceis sobre a terra, e é tudo o que
precisais conhecer”, tal é o trecho tantas vezes repetido pelo mitólogo
norte-americano Joseph Campbell em inúmeras de suas obras, “Mitologia Criativa”
entre elas, uma de minhas leituras recentes...
A metáfora de
Shakespeare surge bem explícita ao final de seu poema: como as rosas que, emurchecidas,
são empregadas em perfumes e, desse modo perduram; assim a beleza do humano,
que se protrai no tempo, mesmo com o advento da morte, pelo poder de subsistir que a verdade encerra.
J.A.R.-H.C.
Referência:
[1]. HOUSMAN, Robert Fletcher. A collection of english sonnets. London: Whittaker and Co., Ave-Maria
Lane; Manchester: Bancks and Co., 1835. p. 26.
☫
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