Hoje, pela manhã, estive a flamar pela Segunda
Bienal do Livro de Brasília, em curso na Esplanada dos Ministérios. Lá
encontrei um livro de poesias de Byron e Keats, traduzidas pelo também poeta
Augusto de Campos: “Byron e Keats - Entreversos”.
Mas sabe-se lá o que o imprevisto pode trazer ao
nosso deleite! Para minha surpresa, eis que encontro ali um poema de Keats
sobre o gato de uma nomeada Sra. Reynolds.
Acerca do trabalho de tradução de Augusto,
vejo-o como simplesmente admirável, pois foi capaz de manter o clima estético
do original, ao mesmo tempo que preservou as suas formas. Uma tarefa, decerto,
algo facilitada pelo trânsito franqueado que tem com as musas do Parnaso!
Sem ter sido esse o motivo determinante para que
adquirisse a obra – pois a coletânea é plena de poemas soberbos! –, obviamente
que o acaso do achado, síncrono à recolha que ora promovo em meu bloguinho,
contou em favor da aquisição.
Vejam abaixo, pela transcrição, se o que digo
merece crédito ou não...
J.A.R. – H.C.
John
Keats
(1795-1821)
To
Mrs. Reynolds’ Cat
Cat!
who hast pass’d thy grand cliacteric,
How
many mice and rats hast in thy days
Destroy’d?
− How many tit bits stolen? Gaze
With
those bright languid segments green, and prick
Those
velvet ears − but pr’ythee do not stick
Thy
latent talons in me − and upraise
Thy
gentle mew − and tell me all thy frays
Of
fish and mice, and rats and tender chick.
Nay,
look not down, nor lick thy dainty wrists -
For
all the wheezy asthma, − and for all
Thy
tail’s tip is nick’d off − and though the fists
Of
many a maid have given thee many a mail,
Still
is that fur as soft as when the lists
In
youth thou enter’dst on glass bottled wall.
Ao
Gato da Sra. Reynolds
Gato! que já passaste o grande climatério,
Quantos ratos e camundongos já comeste?
Que petiscos roubaste? Ergue-me o olhar, reveste
De verde lânguido os teus olhos de mistério.
Alça as orelhas de veludo, mas não queiras
Fincar em mim as tuas úngulas latentes,
Faz teu meigo miado e conta as sorrateiras
Caças de ratos, peixes, pintos nos teus dentes.
Não baixes os teus olhos, nem lambas agora
As patas, apesar da asma e dos apuros
Da cauda cetinosa que te falta; e embora
As servas te enxotassem com castigos duros,
Teu pelo ainda é suave e lembra como outrora
Te esquivavas dos cacos de vidro pelos muros.
Referência:
KEATS,
John. To Mrs. Reynolds’ Cat. In: CAMPOS, Augusto de (Org. e Trad.). Byron e Keats:
entreversos. Edição bilíngue. Campinas: Ed. da Unicamp, 2009. p. 166-167.
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