Vamos agora partir para outros autores que
também têm expressado o seu amor pelos bichanos. Para tanto, recorremos à
coletânea francesa “Le Chat em 60 Poèmes”, onde consta o soneto trasladado a
seguir, escrito em 1883 pelo crítico e historiador Hippolyte Taine, também de
origem francesa.
Em sequência, há uma tradução em que esforcei-me
para oferecer o melhor resultado possível, consideradas as minhas limitações
artísticas (rs). O resultado, julgo-o satisfatório. Ou seja: aquém, obviamente,
das habilidades de um Ivan Junqueira ou de um Jamil Almansur Haddad. Mas vamos
lá...
Pelo teor do soneto, infere-se que o seu autor
julga que os gatinhos permaneçam inativos oito horas por dia, provavelmente
dormindo, o que seria projetar nos felinos um hábito de descanso muito humano,
não?! Ademais, pelo sono leve que tenho, poderia afirmar que eles ficam
acordados muitas horas durante as noites, pois os enlaces amorosos dos gatos,
digamos assim, nunca são silenciosos! (rs).
J.A.R. – H.C.
Hippolyte Taine
(1828-1893)
Deux Mois
Les petits ont deux mois; fourrés comme des
ours,
Lustrés comme des loirs, ils sont bien de leur
race.
Juin flambe en eux, jamais leur
souplesse n’est lasse;
Il faut à leurs ébats les seize heures des
jours.
Dressant
leurs reins arqués sur leurs pieds de velours,
Ils
s’affrontent; soudain, l’un à l’autre s’enlace;
Ils
roulent; tous leurs jeux sont des assauts de grâce;
Auprès
d'eux les chevreuils bondissants semblent lourds.
La
grâce en les enfants, la beauté dans les roses,
La nature impuissante en ses métamorphoses,
N’a que deux fois produit le chef-d'œuvre
parfait.
Hors
d’elle, l’art vagit empêtré dans ses langes.
Qu'a
fait l’orgueil humain? les peintres, qu’ont-ils fait?
Corrège,
des amours, et Raphaël, des anges!
Dois Meses
Os pequenos têm dois meses; são como ursos
forrados,
Lustrosos como arganazes, eles são bem de sua
raça.
Junho os excita, sua flexibilidade nunca é
lassa;
Dezesseis horas por dia duram os seus
desenfados.
Alinhando suas cinturas sobre os pés aveludados,
Eles se afrontam; de repente, um ao outro
enlaça;
Eles rolam; todos os seus jogos são ofensivas de
graça;
Perto deles os cervos saltando parecem pesados.
A graça nas crianças, nas rosas a beleza,
Em suas metamorfoses impotente é a natureza,
Não mais que duas vezes produz o opus
magnum perfeito.
Lá fora, a arte soluça enredada em seus
arranjos.
O que faz o orgulho humano? Os pintores, o que
têm feito?
Correggio, uns amores, e Rafael, uns anjos!
Referência:
TAINE, Hippolyte. Deux mois.
In: NOVARINO-POTHIER, Albine (Éd.). Le chat em 60 poèmes.
Paris: Omnibus, 2013. p. 13.
ö
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