A
revista ISTOÉ desta semana apresenta uma interessante reportagem sobre pesquisa
que realizou com jovens entre 16 e 33 anos, os quais se estima que correspondam
a 1/3 do eleitorado brasileiro.
A
matéria completa, disponível neste endereço,
tem por chamada as seguintes sentenças: (i) 63% acham que o Brasil não
está no rumo certo; (ii) 59% acreditam que a
situação estaria melhor se não existissem partidos; e
(iii) mais de 50% deles encontram-se entre os eleitores indecisos ou que
pretendem anular o voto.
Outro
ponto digno de nota é o parecer do cientista político Ricardo Guedes,
para quem só metade do eleitorado do país definiu seu candidato, “e
a diferença do voto certo entre Marina e Aécio é de menos que 4%”. Com o voto
racional tendendo cada vez mais a prevalecer sobre o voto de comoção e de
protesto, Guedes acredita que o eleitor focará os programas eleitorais e os
debates. “O currículo e as propostas são elementos de decisão”, acentua (ISTOÉ,
3 set 2014, p. 30).
Ao
longo da reportagem, consta a entrevista com o presidente do Instituto Data
Popular, Renato Meirelles, segundo o qual os jovens na precitada
faixa etária serão decisivos na eleição de outubro, pois, além de votarem,
ainda formam opinião em casa.
Os
negritados em vermelho são de nossa autoria, para alertar o internauta para
pontos que, não sendo óbvios, oferecem contornos a merecer atenção por parte
dos representantes políticos brasileiros, se quiserem se manter antenados com
as mudanças que os tempos modernos demandam.
Descontem-se,
obviamente, os claros elementos de “doxa” no discurso do entrevistado.
J.A.R.
– H.C.
“Os políticos não falam a língua dos jovens”
ISTOÉ
– Muitos analistas apostam que essas serão as eleições da mudança. O sr.
concorda com isso?
Renato
Meirelles – As pesquisas mostram que as pessoas querem um Brasil
diferente do que está hoje, mas com uma garantia
efetiva de que as conquistas dos últimos anos não sejam perdidas. O eleitor
está insatisfeito com a situação do País da porta de casa para fora, já que do
lado de dentro as pessoas sabem que as coisas melhoraram muito. Essa
será uma eleição de futuro e não de passado.
ISTOÉ
– Isso explica, por exemplo, o fato de os candidatos defenderem os programas
sociais do governo e concentrarem as críticas em economia e gestão pública?
Meirelles
– Economistas não entendem de gente de carne e osso. De nada vale
discutir o passado. Só um terço dos eleitores tem condições maduras de comparar
os governos FHC e Lula. O eleitor não quer mais
discutir cesta básica, ele quer banda larga. Ele não quer dentadura, mas o
Bolsa Família 2.0.
ISTOÉ
–O que é Bolsa Família 2.0?
Meirelles
– Essa juventude quer maior conectividade, acessos livres a
banda larga e a tecnologia de ponta. Eles representam 33% do eleitorado e 85%
deles são internautas.
ISTOÉ
– Mas problemas econômicos, como a alta da inflação e a falta de crescimento do
PIB, não pautam o voto?
Meirelles
– A maior parte dos eleitores é da classe C e eles não entram e
nem querem saber sobre essa conversa de pibinho, taxa Selic e tripé macroeconômico. Eles
querem saber sobre o preço do tomate, do emprego e da diminuição dos juros no
crediário e nos juros do cheque especial.
ISTOÉ
– Quais são os desejos e necessidades desses eleitores?
Meirelles
– Eles querem saber quem vai garantir a creche para as
mulheres que foram para o mercado de trabalho. Querem
serviços públicos de mais qualidade e não abrem mão da manutenção do poder de
compra.
ISTOÉ
– Quem são os jovens dessa geração digital?
Meirelles
– São jovens de 18 a 33 anos, uma mistura das gerações Y e X
(nascidos entre 1980 e hoje) e predominantemente de classe C. Gastam R$ 200
bilhões por ano. De cada R$ 100 que um pai da classe alta injeta na economia do
lar, o filho jovem coloca R$ 57. Na classe C, o filho coloca R$ 96. É por isso
que os filhos influenciam mais a economia doméstica. Além disso, eles
são mais escolarizados que os pais e mais conectados.
ISTOÉ
– Qual será a importância deles nas eleições de outubro?
Meirelles
– Como os jovens decidem mais sobre as coisas dentro de casa,
eles são os novos formadores de opinião. Isso vale tanto para a compra de um
produto quanto para a decisão do voto familiar. Não há como discutir o processo
eleitoral sem falar da juventude. Os jovens olham para a
frente; são eles que vão ajudar a decidir as eleições este ano.
ISTOÉ
– As pesquisas mostram em qual candidatura eles estão apostando as fichas?
Meirelles
– É muito cedo para falar em definições, mas
certamente a entrada da candidata Marina Silva modificou o quadro eleitoral. A
ex-senadora, ao que tudo indica, consegue angariar o voto jovem, que soma boa
parte dos descontentes com a política que saíram às ruas em junho do ano
passado.
ISTOÉ
– O que as manifestações de junho de 2013 deixaram de legado?
Meirelles
– Que os jovens não aceitam mais uma classe política que não
os representa. Eles querem ser protagonistas da própria história. Essa geração
não aceita hierarquias, censura e tampouco tentativas de silenciá-los.
ISTOÉ
– Os jovens estão mais insatisfeitos?
Meirelles
– Por serem mais escolarizados e conectados que os pais, eles
são mais críticos com a real situação do País. Eles
não enxergam na classe política a solução para um futuro melhor.
ISTOÉ
– Isso explica por que a maioria dos jovens está indecisa ou pretende anular o
voto?
Meirelles
– Os políticos não sabem levar a pauta política para o
cotidiano dos jovens. Eles não falam a linguagem desse eleitorado. Os políticos
são analógicos e os jovens são digitais. Eles têm uma
mentalidade velha que avalia políticas públicas pela lógica da oferta e não
pela demanda. Ou seja, é mais importante o que os estudiosos afirmam que é bom
para as pessoas, do que o que o povo sabe que é importante para elas.
Referência:
ISTOÉ. O
que os jovens pensam sobre a política. Ano 38, n. 2336 (3 set 2014). p.
50-55. Acesso em: 30 ago 2014. Disponível neste endereço.
÷ø
Nenhum comentário:
Postar um comentário