Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de agosto de 2014

Octavio Paz – Definição de Poesia

Octavio Paz, o amado Nobel de Literatura de 1990, o mexicano de todo o mundo, eis que diplomata, foi agraciado com o prêmio “por uma escrita apaixonada e com amplos horizontes, caracterizada por uma inteligência sensual e integridade humanista”.

Sobressai, dentre tantas obras de Paz, o já canonizado no âmbito da crítica literária “O Arco e a Lira”. E é de lá, de suas primeiras páginas, especificamente de sua “Introdução”, que extraímos a sua definição sobre o que seja a poesia, bem extensa, aliás, como se diria que lhe veio “assim tão caudalosa”: uma definição muito poética da poesia! Correndo o risco de toda a redundância. Recheada de aproximações, de efeitos retóricos, de achados magníficos. Em suma: um hino de amor à arte poética!

J.A.R. – H.C. 
Octavio Paz
(1914-1998)

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio todos os conflitos objetivos  se resolvem e o homem finalmente toma consciência de ser mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar de uma forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da ideia. Loucura, êxtase, logos. Retorno à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos mas há quem afirme que não possui nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana! (PAZ, 2012, p. 21).

Abandonado como los
muelles en el alba
(Verónica Leiton: n. 1964)

Referência:

PAZ, Octavio. Introdução: poesia e poema. In: __________. O Arco e a lira. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012. p. 19-34.

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