Pangur Bán, um belo poema escrito por um monge, por volta do século VIII ou
IX da era cristã, originalmente em irlandês antigo, à
margem de sua cópia das Epístolas de São Paulo, foi encontrado próximo à abadia
de Reichenau (Carinthia - Áustria).
Associa o seu autor, certamente um estudioso monástico, as atividades de
seu gato – Pangur Bán, que significa “mais branco do que branco” –, quando vai
à caça de camundongos, às suas próprias atividades como copista.
Entre as mais famosas traduções para o inglês moderno, está a do poeta
Robin Flower (1881-1946), que abaixo transcrevemos, juntamente a uma versão em
português, cujo autor, Ivan
Justen Santana, esmerou-se em manter a estrutura de rimas da tradução de Flower.
Para um poema com mais de um milênio de existência, pode-se avaliar o longo transcurso de tempo no qual os felinos têm passado pelo aprendizado de conviver com os humanos,
educando-se e/ou replicando, de algum modo, o nosso comportamento. E
vice-versa: pela enorme quantidade de obras voltadas a apresentar ao público,
leigo ou não sobre o assunto, todo o conhecimento que já se tem sobre os bichanos,
suas raças, hábitos etc., hoje, como nunca, persistem eles como destinatários
de nossa mais apurada afeição.
J.A.R. – H.C.
Casper
Vicki Paull (Cambrige
– UK)
The Scholar and
his Cat Pangur Bán
(Robin Flower)
I and Pangur Bán my cat,
'Tis a like task we are at:
Hunting mice is his delight,
Hunting words I sit all night.
Better far than praise of men
'Tis to sit with book and pen;
Pangur bears me no ill-will,
He too plies his simple skill.
'Tis a merry task to see
At our tasks how glad are we,
When at home we sit and find
Entertainment to our mind.
Oftentimes a mouse will stray
In the hero Pangur's way;
Oftentimes my keen thought set
Takes a meaning in its net.
'Gainst the wall he sets his eye
Full and fierce and sharp and sly;
'Gainst the wall of knowledge I
All my little wisdom try.
When a mouse darts from its den,
O how glad is Pangur then!
O what gladness do I prove
When I solve the doubts I love!
So in peace our task we ply,
Pangur Bán, my cat, and I;
In our arts we find our bliss,
I have mine and he has his.
Practice every day has made
Pangur perfect in his trade;
I get wisdom day and night
Turning darkness into
light.
O Estudioso e o seu Gato Pangur Bán
(Robin Flower)
Eu e meu felino
Pangur Bán,
Eis nossa filosofia
vã:
Caçar ratinhos é seu
deleite,
Caçando letras eu
passo a noite.
Muito melhor que
aplauso mortal
É estar aqui com
livro e penal;
Pangur concorda que a
escolha é boa:
Na caça também se
aperfeiçoa.
Dá gosto ver a paixão
feroz
Que dedicamos, os
dois a sós,
Quando nos pomos
alegremente
A contentar nosso
corpo e mente.
Frequentemente um
ratinho sói
Passar em frente a
Pangur, o herói;
Frequentemente meu
pensamento
Captura a ideia de um
argumento.
Colado à parede, o
gato vê
Com raro olho vivo,
agudo em V;
Colado à parede do
saber,
A percepção eu tento
estender.
Quando um ratinho
surge da fresta
Ah, que alegria
Pangur infesta!
Mesma alegria infesta
meu eu
Se alguma questão se
resolveu!
Assim, tranquilos, em
santa paz,
Eu e Pangur, meu
felino audaz,
Fruímos nossa
iluminação,
Eu, no silêncio; ele,
na ação.
A prática diária do
exercício
Fez Pangur perfeito
em seu ofício;
E, noite e dia, o
saber me aduz
A transformar as
trevas em luz.
Referência:
FLOWER, Robin. The scholar and his cat Pangur Bán. In: MURPHY, Maureen
O’Rourke; MACKILLOP, James. Irish literature: a reader. 7. ed. New
York: Syracuse University Press, 2000. (Irish Studies). p. 22-23.
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