Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Roberto Juarroz – 11ª Poesía Vertical (I) [1988]

Trazemos nesta postagem um belo poema do escritor, bibliotecário e ensaísta argentino Roberto Juarroz. Por meio dele se percebe o quanto o ato de escrever é invasivo para o autor em foco: a escrita equivale à totalidade do seu ser.

 

Assim para muitos, a expressão poética talvez sirva como um processo catártico, com potencial para dar vazão ao conteúdo latente de sentimentos enclausurados: uma escrita fluida e ininterrupta, como a própria vida.

 

Ou por outra, a plena equivalência entre um fato da vida e a sua redução à palavra escrita – ou, mais amplamente, a um livro, como postulava Mallarmé (1945, p. 378): “Tout, au monde, existe pour aboutir à un livre” (“Tudo, no mundo, existe para terminar num livro”).

 

J.A.R. – H.C.

 

Roberto Juarroz

(1925-1995)

 

Undécima Poesía Vertical

 

(I)

 

El poema continuo,

la escritura continua,

el texto que nunca se termina

y nunca se interrumpe,

el texto equivalente a ser.

 

La vida se convierte

en una forma de escritura

y cada cosa es una letra,

un signo de puntuación,

la inflexión de una frase.

 

Inaugural metabolismo

de una filología

que ha descubierto un nuevo verbo:

el verbo siempre.

 

La poesía se escribe siempre,

vivir se vive siempre,

algo despierta siempre:

poema-siempre.

 

El ser es escritura.

 

Y una palabra es suficiente

para toda la acción:

siempre.

El otro verbo,

nunca,

es tan sólo su sombra.

 

A pintura é poesia

(Nay Sun: artista de Mianmar)

 

Décima Primeira Poesia Vertical

 

(I)

 

O poema contínuo,

a escrita contínua,

o texto que nunca se termina

e nunca se interrompe,

o texto equivalente a ser.

 

A vida se converte

em uma forma de escrita

e cada coisa é uma letra,

um sinal de pontuação,

a inflexão de uma frase.

 

Inaugural metabolismo

de uma filologia

que tem descoberto um novo verbo:

o verbo sempre.

 

A poesia se escreve sempre,

viver se vive sempre,

algo desperta sempre:

poema-sempre.

 

O ser é escrita.

 

E uma palavra é suficiente

para toda a ação:

sempre.

O outro verbo,

nunca,

é tão somente sua sombra.

 

Referências:

 

JUARROZ, Roberto. Décima Primeira Poesia Vertical. In: __________. Poesía vertical: antología essencial. Selleción de Sandra Santana Mora y Beatriz San Vicente. Supervisión por Laura Cerrato. 1. ed. Buenos Aires: Emecé, 2001. p. 32.

 

MALLARMÉ, Stéphane. Le livre, instrument spirituel. In: ________. Oeuvres completes. Texte établi et annoté par Henri Mondor et G. Jean-Auvry. Paris (FR): Gallimard, 1945. p. 378-382.

÷ø

Nenhum comentário:

Postar um comentário