Trazemos nesta postagem um belo poema do escritor,
bibliotecário e ensaísta argentino Roberto Juarroz. Por meio dele se percebe o
quanto o ato de escrever é invasivo para o autor em foco: a escrita equivale à
totalidade do seu ser.
Assim para muitos, a expressão poética talvez sirva
como um processo catártico, com potencial para dar vazão ao conteúdo latente de
sentimentos enclausurados: uma escrita fluida e ininterrupta, como a própria
vida.
Ou por outra, a plena equivalência entre um fato da
vida e a sua redução à palavra escrita – ou, mais amplamente, a um livro, como
postulava Mallarmé (1945, p. 378): “Tout, au monde, existe pour aboutir à un
livre” (“Tudo, no mundo, existe para terminar num livro”).
J.A.R. – H.C.
Roberto Juarroz
(1925-1995)
Undécima Poesía Vertical
(I)
El poema continuo,
la escritura
continua,
el texto que nunca se
termina
y nunca se
interrumpe,
el texto equivalente
a ser.
La vida se convierte
en una forma de
escritura
y cada cosa es una letra,
un signo de
puntuación,
la inflexión de una
frase.
Inaugural metabolismo
de una filología
que ha descubierto un
nuevo verbo:
el verbo siempre.
La poesía se escribe
siempre,
vivir se vive
siempre,
algo despierta
siempre:
poema-siempre.
El ser es escritura.
Y una palabra es
suficiente
para toda la acción:
siempre.
El otro verbo,
nunca,
es tan sólo su
sombra.
A pintura é poesia
(Nay Sun: artista de
Mianmar)
Décima Primeira Poesia Vertical
(I)
O poema contínuo,
a escrita contínua,
o texto que nunca se
termina
e nunca se
interrompe,
o texto equivalente a
ser.
A vida se converte
em uma forma de
escrita
e cada coisa é uma
letra,
um sinal de
pontuação,
a inflexão de uma
frase.
Inaugural metabolismo
de uma filologia
que tem descoberto um
novo verbo:
o verbo sempre.
A poesia se escreve
sempre,
viver se vive sempre,
algo desperta sempre:
poema-sempre.
O ser é escrita.
E uma palavra é
suficiente
para toda a ação:
sempre.
O outro verbo,
nunca,
é tão somente sua
sombra.
Referências:
JUARROZ, Roberto. Décima
Primeira Poesia Vertical. In: __________. Poesía
vertical: antología essencial. Selleción de Sandra Santana Mora y Beatriz
San Vicente. Supervisión por Laura Cerrato. 1. ed. Buenos Aires: Emecé, 2001.
p. 32.
MALLARMÉ, Stéphane. Le livre, instrument spirituel.
In: ________. Oeuvres completes.
Texte établi et annoté par Henri Mondor et G. Jean-Auvry. Paris (FR):
Gallimard, 1945. p. 378-382.
÷ø
Nenhum comentário:
Postar um comentário