Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de agosto de 2014

Blaise Pascal: Beleza, Verdade e Outros Conceitos

O matemático, filósofo e – por que não dizer? – místico francês Blaise Pascal é autor de alguns pensamentos que marcaram a história da cultura ocidental: quem jamais ouviu falar na expressão “O coração tem suas razões, que a razão não conhece.” (PASCAL, 2005, p. 110; n. 277), ou mesmo “Divertida justiça que um rio limita! Verdade aquém dos Pirineus, erro além.” (PASCAL, 2005, p. 110; n. 294)?!

Por aí já se percebe toda a complexidade do raciocínio de Pascal, que, nada obstante, condena a racionalidade imoderada na experiência humana. Diz-nos ele: “Dois excessos: excluir a razão; só admitir a razão” (PASCAL, 2005, p. 100; n. 253).

Não se estranhe, por conseguinte, que haja passagens em sua obra máxima – “Pensamentos” – impregnadas de pessimismo e de invocação deísta, quando, por exemplo, vem a tratar da questão da verdade, como neste excerto: “Não é este o país da verdade: esta erra, desconhecida, entre os homens. Deus a envolveu com um véu que a mantém desconhecida dos que não lhe ouvem a voz” (PASCAL, 2005, p. 276; n. 843).

Mas o nosso interesse com esta postagem é trazer o brilho de algumas reflexões selecionados de Pascal, sobre temas variados como a verdade, a mentira, a argumentação, a persuasão e a beleza poética – e lá vem, de novo, a alegoria feminina justaposta nos contrafortes do raciocínio por ele lavrado! (rs).

J.A.R. – H.C. 
Blaise Pascal
(1623-1662)

9.   Para que se possa repreender de maneira útil e que se mostre a alguém o seu erro, é preciso observar de que ponto de vista se enxerga o assunto, porque, em geral, é verdadeiro para aquele que observa, e então reconhecer-lhe a verdade, mas desvendar-lhe o lado falso. Dessa maneira, contentamos à pessoa enganada, pois ela percebe que não estava equivocada e sim que deixara apenas de encarar as coisas de todos os ângulos possíveis; ninguém se aborrece por não ter visto tudo, mas ninguém deseja equivocar-se; e talvez isso derive do fato de o homem ser incapaz de ver tudo e de, naturalmente, não poder se enganar no ângulo escolhido; e isso porque as percepções dos sentidos são sempre verdadeiras (PASCAL, 2005, p. 32).

10.  O homem em geral se convence mais com os argumentos que ele mesmo tece do que com aqueles que surgem no espírito alheio (PASCAL, 2005, p. 32).

33. Beleza poética: Assim como dizemos beleza poética, deveríamos dizer beleza geométrica e beleza médica; não o dizemos, porém; e o motivo é que conhecemos bem o objeto da geometria, o qual consiste em provar, e o objeto da medicina, que é curar; mas não sabemos em que consiste o prazer, objeto da poesia. Desconhecemos esse modelo natural que é preciso imitar; e, na ausência desse conhecimento, criamos estranhos termos: séculos de ouro, maravilha de nossos dias, fatal etc., e a esse jargão denominamos beleza poética.
    Quem imaginar, porém, uma mulher conforme o modelo que consiste em falar ninharias com palavras belas irá deparar com uma bela senhorita com muitas pulseiras e de quem zombará, pois sabemos melhor a respeito do encanto de uma mulher do que do prazer de um verso. Aqueles que não o soubessem, no entanto, admirá-la-iam com esses adornos; e em muitas aldeias tomá-la-iam por rainha. Por isso chamamos aos sonetos assim feitos as rainhas da aldeia (PASCAL, 2005, p. 37).

739. A verdade está tão ofuscada nestes tempos, e a mentira tão assentada que, a menos que amemos a verdade, não saberíamos reconhecê-la (PASCAL, 2012, p. 582-583).

740. Os (astutos) são pessoas que conhecem a verdade, porém somente a defendem quanto convém a seus interesses, fora dos quais a abandonam (PASCAL, 2012, p. 583).

Referências:

PASCAL, Blaise. Pensamentos. Consultoria de Marilena de Souza Chauí. Tradução de Olívia Bauduh. São Paulo: Nova Cultural, 2005. (Os Pensadores)

PASCAL, Blaise. Pensamientos y otras obras. Estudio introductorio por Alicia Villar Ezcurra. Traducción de Carlos R. de Dampierre. Madrid (ES): Gredos, 2012. (Grandes Pensadores)

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