Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 19 de outubro de 2014

Jorge Lobillo – O Gato Morto

Depois de um razoável período de tempo longe destas paragens, relembramos os idos das poesias dedicadas aos bichanos. Trazemos então um poema do poeta e tradutor mexicano Jorge Lobillo, retratando o achado de um gato morto no jardim.

Jorge Lobillo nasceu em Xalapa, Veracruz, México, em 1943, e é considerado um dos poetas mais importantes da geração que sucedeu à de Octavio Paz. É ainda tradutor e exerce intensa atividade literária, inclusive no plano de aproximação de poetas estrangeiros com os de seu país. Publicou os seguintes livros de poesia: Mutilación del água (1981), Las migajas y los pájaros (1992) e Informe de la casa (1998). Reside em sua cidade natal (REVISTA BRASILEIRA, 2008, p. 317).

J.A.R. – H.C. 
Jorge Lobillo
(n. 1943)

El Gato Muerto

A Saúl Pabello

Nunca olvidarás aquel gato encontrado en el jardín.
Dos escamas de agua endurecida eran sus ojos.
Fue en una mañana sola – gris rosa deshojada –
que apareció sepultado de rocío y nadie
pensó en ese golpe áspero dado al amanecer.
¿Qué manos emisarias, desde arriba, lo empujaron?
¿Cuál ambiente cósmico no pudo favorecer
al silente terciopelo engreído de las patas?
¿En qué todopoderosa fábula lo silenciaron?
Morirás escudriñando el lenguaje, y no sabrás nada.
Sólo que siete vidas no lograron sustentarlo

Cat
Kasia B. Turajczyk
(Pintora nascida na Polônia)

O Gato Morto

A Saúl Pabello

Nunca esquecerás aquele gato achado no jardim.
Seus olhos eram duas escamas de água endurecida.
Foi numa só manhã – desfolhada rosa cinza –
que apareceu sepultado de orvalho e ninguém
pensou nesse golpe áspero dado ao amanhecer.
Que mãos emissárias, desde o alto, o empurraram?
Que ambiente cósmico não pôde favorecer
o silente, soberbo veludo de suas patas?
Em que todo-poderosa fábula o silenciaram?
Morrerás esquadrinhando a linguagem e nada saberás.
Só que sete vidas não lograram sustentá-lo.

Referência:

LOBILLO, Jorge. El gato muerto. Tradução de Izacyl Guimarães Ferreira. In: Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Fase IV, Jul-Ago-Set.2008, Ano XIV, n. 56. p. 326-327. Disponível neste endereço. Acesso em: 17 out. 2014.
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