Depois de um razoável período de tempo longe destas paragens,
relembramos os idos das poesias dedicadas aos bichanos. Trazemos então um poema
do poeta e tradutor mexicano Jorge Lobillo, retratando o achado de um gato
morto no jardim.
Jorge Lobillo nasceu em Xalapa,
Veracruz, México, em 1943, e é considerado um dos poetas mais importantes da
geração que sucedeu à de Octavio Paz. É ainda tradutor e exerce intensa
atividade literária, inclusive no plano de aproximação de poetas estrangeiros com
os de seu país. Publicou os seguintes livros de poesia: Mutilación del água
(1981), Las migajas y los pájaros (1992) e Informe de la casa (1998). Reside em
sua cidade natal (REVISTA BRASILEIRA, 2008, p. 317).
J.A.R. – H.C.
Jorge Lobillo
(n. 1943)
El Gato Muerto
A Saúl Pabello
Nunca olvidarás aquel
gato encontrado en el jardín.
Dos escamas de agua
endurecida eran sus ojos.
Fue en una mañana
sola – gris rosa deshojada –
que apareció
sepultado de rocío y nadie
pensó en ese golpe
áspero dado al amanecer.
¿Qué manos emisarias,
desde arriba, lo empujaron?
¿Cuál ambiente cósmico
no pudo favorecer
al silente terciopelo
engreído de las patas?
¿En qué todopoderosa
fábula lo silenciaron?
Morirás escudriñando
el lenguaje, y no sabrás nada.
Sólo que siete vidas
no lograron sustentarlo
Cat
Kasia B. Turajczyk
(Pintora nascida na
Polônia)
O Gato Morto
A Saúl Pabello
Nunca esquecerás
aquele gato achado no jardim.
Seus olhos eram duas
escamas de água endurecida.
Foi numa só manhã –
desfolhada rosa cinza –
que apareceu
sepultado de orvalho e ninguém
pensou nesse golpe
áspero dado ao amanhecer.
Que mãos emissárias,
desde o alto, o empurraram?
Que ambiente cósmico
não pôde favorecer
o silente, soberbo
veludo de suas patas?
Em que todo-poderosa
fábula o silenciaram?
Morrerás
esquadrinhando a linguagem e nada saberás.
Só que sete vidas não
lograram sustentá-lo.
Referência:
LOBILLO, Jorge. El gato muerto. Tradução
de Izacyl Guimarães Ferreira. In: Revista
Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Fase IV, Jul-Ago-Set.2008, Ano XIV, n. 56. p.
326-327. Disponível neste
endereço. Acesso em: 17 out. 2014.
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