Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de outubro de 2014

Lérmontov – A Sedução do Demo

Prezados internautas, vejam o que encontrei numa seleta de poesias russas, traduzidas ao galego, e referenciadas ao final desta postagem: o Demo, com toda a sua retórica, “tenta seduzir Tamara [no poema ‘O Demônio’ (ou ‘Tamara’), de Lérmontov] e desviá-la do convento no qual está reclusa por vontade própria, depois que o seu prometido, no caminho de volta do seu casamento, foi assassinado por um bando de ossetos, habitantes do Cáucaso do norte, de origem muçulmana, em permanente luta contra os russos e os georgianos” (PUSHKIN et al., 2014, p. 29).

Óbvio está que, imediatamente, associei o aludido excerto do poema ao “Fausto” de Goethe. Mas o texto de Lérmontov – que, aliás, faleceu no mesmo dia do meu aniversário (27 de julho) – tem mais graça e nos faz imaginar a cena patética que, eventualmente, se poderia produzir numa representação teatral do que se passa.

J.A.R. – H.C. 
Mikhaíl Lérmontov
(1814-1841)

Демон

Я тот, которому внимала
Ты в полуночной тишине,
Чья мысль душе твоей шептала,
Чью грусть ты смутно отгадала,
Чей образ видела во сне.
Я тот, чей взор надежду губит;
Я тот, кого никто не любит;
Я бич рабов моих земных,
Я царь познанья и свободы,
Я враг небес, я зло природы,
И, видишь, я у ног твоих!
Тебе принес я в умиленье
Молитву тихую любви,
Земное первое мученье
И слезы первые мои.
О! выслушай, из сожаленья!
Меня добру и небесам
Ты возвратить могла бы словом.
Твоей любви святым покровом
Одетый, я предстал бы там
Как новый ангел в блеске новом.
О! только выслушай, молю,
Я раб твой, я тебя люблю!
Лишь только я тебя увидел,
И тайно вдруг возненавидел
Бессмертие и власть мою.
Я позавидовал невольно
Не полной радости земной;
Не жить как ты мне стало больно,
И страшнорозно жить с тобой.
В бескровном сердце луч нежданый
Опять затеплился живей,
И грусть на дне старинной раны
Зашевелилася как змей.
Что, без тебя, мне эта вечность?
Моих владений бесконечность?
Пустые звучные слова,
Обширный храмбез божества!

Read by Vlad Kazimirov

O Demônio

Eu sou aquele que escutavas
No silêncio da meia noite,
Cujo pensamento sussurrava à tua alma,
De quem a tristeza vagamente percebias,
Cuja imagem povoava os teus sonhos. 
Eu sou o olhar que aniquila a esperança;
Eu sou aquele de quem ninguém gosta;
Sou o chicote de meus servos na terra,
Sou o príncipe do saber e da liberdade,
Sou o inimigo dos céus, a desgraça da natureza, 
E, olha, estou aos teus pés!
A ti ofereço com ternura
Esta silenciosa oração de amor,
O meu primeiro tormento terrenal
E as minhas primeiras lágrimas. 
Oh! Escuta, por piedade!
Ao bem e aos céus poderias
Devolver-me com tuas palavras.
Coberta pelo sagrado manto de teu amor,
Lá eu me apresentaria, 
Como um anjo novo com um novo esplendor.
Oh! Somente escuta, suplico-te,
Sou o teu servo, eu te amo!
Assim que te vi,
Repentinamente comecei a odiar em segredo 
A imortalidade e o meu poder.
Passei a muito invejar a meu pesar
As nunca plenas alegrias mundanas;
Não viver como tu deixa-me combalido,
E terrível seria viver separado de ti. 
Em meu coração sem sangue um súbito raio
Fê-lo novamente pulsar,
E a tristeza no fundo de uma velha ferida
Começou a mover-se como uma serpente.
O que é, para mim, essa eternidade sem ti? 
Minhas posses infinitas?
Vazias e estentóreas palavras,
Um templo amplo – sem uma deidade!

Referência:

LÉRMONTOV, Mikhaíl. O demo II, 10; Демон II, 10. In: PUSHKIN, Alexandr et. al. Antoloxía de poesía rusa: de Pushkin a Evtushenko. Tradución de Lourenzo Maroño e Elena Sherevera. ATG – Asociación de Tradutores Galegos. p. 29. Disponível em: <http://tradutoresgalegos.com/pdf/antoloxia_rusa_.pdf>. Acesso em: 29 set. 2014.

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