Vamos a um passeio por mais uma criação literária dedicada aos felinos, explico-me,
com um soneto da poetisa uruguaia, atualmente vivendo em Austin, no Texas
(EUA), Ida Vitale.
Três gatos, com sugestivos nomes de três personagens do romance de
capa-e-espada “Os Três Mosqueteiros”, do francês Alexandre Dumas – o jovem D’Artagnan
e dois dos três mosqueteiros a que se reporta o título, Porthos e Athos (o
terceiro é Aramis) –, são capazes de passar de súbito, como na vida real, de um
estado de placidez ao de sofreguidão, ao empreender caçadas eróticas pelos
telhados da vida.
J.A.R. – H.C.
Ida Vitale
(n. 1923)
Gatos
Como tras los
mullidos ves tres gatos
a su trisagio erótico
ceñidos,
saltar por los
tejados, aguerridos
como otros D’Artagnan,
Porthos y Athos,
pasas a depender, no
de insensatos
pensamientos ajenos
repetidos
ni de tu larga deuda
de descuidos
sino del paso de
estos gatos gratos.
El primero te quita
de lo humano
sin llevarte por eso
a lo divino;
el segundo te anima
la sonrisa;
con el tercero,
piensas, de la mano,
más cabal, de la cola
del felino:
¿a qué, no siendo
humanos, tanta prisa?
Montevideo (Uruguay,
1924)
De “Reducción del Infinito” (2002)
Gatos
Como depois de
brandos vês três gatos
a seu triságio
erótico cingidos,
saltar pelos
telhados, aguerridos
como outros D’Artagnan,
Porthos e Athos,
passas a depender,
não de insensatos
pensamentos alheios
repetidos
nem de tua vultosa
dívida de descuidos
senão do passo destes
gatos gratos.
O primeiro te libera
do humano
sem levar-te por isso
ao divino;
o segundo te anima o
sorriso;
com o terceiro,
pensas, de mãos dadas,
mais pleno, com a cauda
do felino:
não sendo humanos,
por que tanta pressa?
Montevidéu (Uruguai, 1924)
De “Redução do Infinito” (2002)
Referência:
VITALE, Ida. Gatos. In: Isla Negra 3/131. Casa de Poesía e
Literaturas, mar 2008, p. 9. Disponível em: http://amediavoz.com/vitale.htm.
Acesso em: 27 out 2014.
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