O poeta cearense Augusto de Magalhães, nascido no dia 9/12/1889, em
Baturité, cidadezinha a menos de 100 km de Fortaleza, capital do Estado, achou pelas
veredas desta vida um gatinho a quem lhe deu o sugestivo nome de “Maquiavel”.
E óbvio, como todo bichano, Maquiavel somente aceita carinhos: nada de
lhe apertarem o rabo, pois imediatamente sai do sério e passa a exibir as suas
garras contundentes!
É o que nos diz o enredo do poema que extraímos de uma antologia do poeta, provavelmente organizada, como se nota na referência, por
um de seus descendentes.
J.A.R. – H.C.
O Meu Gato
(Augusto de
Magalhães)
Olhos fosforescentes
Como os de qualquer
gato;
De hábitos indolentes
E sempre mui pacato.
E furta a cor da
cinza,
Do arminho a doce
alvura;
Recorda o vil ranzinza,
O Judas da Escritura.
Ninguém mo deu.
Achei-o;
Ele era inda pequeno,
Na rua, e todo
enleio,
E a rir, lhe dei,
sereno,
Do meu solar o abrigo.
É “grande” e “nobre”
agora,
Dos amigos o amigo;
É o que nunca me
explora...
Quase não pega rato;
Do ronrom da mandria,
A vida leva o gato
Na alta filosofia.
Acode radiante,
Aos miaus, qual mais
belo,
Quando o chamo
arrogante:
– Vem cá, ó
Maquiavel!
E lhe aliso o dorso,
E num aperto o leso;
Unha-me por desforço,
Em fúria todo aceso.
– Porque eu te
acaricio,
Cravas-me a unha?
Feres o teu dono,
vadio?!
– Se tu, sofrer não
queres,
Diz o gato, num
brando,
Num miau doloroso.
Mas no olhar
demonstrando
O instinto rancoroso:
– Não me apertes o
rabo!
E ao meu gato tão
lindo,
que ia para o Diabo,
Dou o meu perdão,
sorrindo.
Referência:
MAGALHÃES, Augusto de. O meu gato. In:
__________. Poemas. Organização de
José Cezar de Magalhães Filho. Ensaios de Roberto Menegaz e Murilo Ramos. Rio
de Janeiro: E-papers, 2007. p. 114-115.
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