Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Augusto de Magalhães - O Meu Gato

O poeta cearense Augusto de Magalhães, nascido no dia 9/12/1889, em Baturité, cidadezinha a menos de 100 km de Fortaleza, capital do Estado, achou pelas veredas desta vida um gatinho a quem lhe deu o sugestivo nome de “Maquiavel”.

E óbvio, como todo bichano, Maquiavel somente aceita carinhos: nada de lhe apertarem o rabo, pois imediatamente sai do sério e passa a exibir as suas garras contundentes!

É o que nos diz o enredo do poema que extraímos de uma antologia do poeta, provavelmente organizada, como se nota na referência, por um de seus descendentes.
                 
J.A.R. – H.C.


O Meu Gato
(Augusto de Magalhães)

Olhos fosforescentes
Como os de qualquer gato;
De hábitos indolentes
E sempre mui pacato.

E furta a cor da cinza,
Do arminho a doce alvura;
Recorda o vil ranzinza,
O Judas da Escritura.

Ninguém mo deu. Achei-o;
Ele era inda pequeno,
Na rua, e todo enleio,
E a rir, lhe dei, sereno,

Do meu solar o abrigo.
É “grande” e “nobre” agora,
Dos amigos o amigo;
É o que nunca me explora...

Quase não pega rato;
Do ronrom da mandria,
A vida leva o gato
Na alta filosofia.

Acode radiante,
Aos miaus, qual mais belo,
Quando o chamo arrogante:
– Vem cá, ó Maquiavel!

E lhe aliso o dorso,
E num aperto o leso;
Unha-me por desforço,
Em fúria todo aceso.

– Porque eu te acaricio,
Cravas-me a unha?
Feres o teu dono, vadio?!
– Se tu, sofrer não queres,

Diz o gato, num brando,
Num miau doloroso.
Mas no olhar demonstrando
O instinto rancoroso:

– Não me apertes o rabo!
E ao meu gato tão lindo,
que ia para o Diabo,
Dou o meu perdão, sorrindo.

Referência:

MAGALHÃES, Augusto de. O meu gato. In: __________. Poemas. Organização de José Cezar de Magalhães Filho. Ensaios de Roberto Menegaz e Murilo Ramos. Rio de Janeiro: E-papers, 2007. p. 114-115.
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