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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Edgar Allan Poe - Um Sonho num Sonho

A ideia de um sonho dentro de um sonho, no âmbito da literatura brasileira, raramente deixa de estar associada ao poema “Sonho de um Sonho”, do mineiro Carlos Drummond de Andrade, a que já fizemos menção neste blog.

Relembremos que é de Martinho da Vila, o sambista da Escola de Samba “Vila Isabel”, em conjunto com outros dois compositores, a adaptação do poema de Drummond a um samba-enredo, escolhido entre os mais belos de 1980, na voz de Marcos Moran.

Mas há antecedentes em outra grande literatura sobre o mesmo tema: o poema “A Dream Within a Dream”, do norte-americano Edgar Allan Poe. Por meio dele, Poe tenta evidenciar que a mente é incapaz de acantonar-se fora de seus próprios limites, para de lá poder observar, num mirante de segundo grau, aquilo que ela própria entende ser a realidade.

Quando reflete, a mente projeta um sonho pretensamente “imparcial”, mas não mais que um simulacro do sonho que é a própria realidade. É como se o poeta nos desafiasse a conhecer o mundo à nossa volta, sem o recurso às nossas fantasias, ilusões, prejulgamentos. Isso seria possível?

J.A.R. – H.C. 
A Dream within a Dream
(Alan Parsons Project)

A Dream Within a Dream
(Edgar Allan Poe)

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow −
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand −
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep − while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

  
Um Sonho num Sonho
(Edgar Allan Poe)

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?

Referência:

POE, Edgar Allan. Silêncio. In: __________. Poemas e Ensaios. Tradução de Osmar Mendes e Milton Amado. 3. ed. São Paulo: Globo, 1999. p. 47.

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