Neste domingo, dia de eleições para presidente do Brasil em seu segundo
turno, muito a propósito, postamos um poema de comprometimento social, de
autoria de outro poeta e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, o mais que
conhecido autor de “As Veias Abertas da América Latina”, lá dos começos dos
anos 70 do século passado.
Diz-nos ele: “Os meios de informação desinformam”. E todos vemos o
quanto esses meios se prestam a defender os seus próprios interesses – jamais os do povo em geral –, quando bombardeiam nossos televisores e a internet com
denúncias não devidamente assentadas sobre provas, no sentido cabal de
influenciar de modo decisivo sobre o resultado das urnas, levando o candidato
Aécio Neves à presidência.
Faço mensal especial à revista “Veja”, que se tornou o exemplo mais
cabal de jornalismo sem qualquer ética. Basta ver que já desde fins dos anos 80,
mesmo quando o PT sequer tinha alcançado o poder, suas matérias, de modo
sistemático, somente apresentam conteúdo adverso a tal partido, pouco
importando o que haja feito de positivo nos últimos doze anos pelo Brasil – e
não foi pouca coisa no plano social! Ali, não há meio termo ou conteúdo
ponderado: são apenas destratos contra quem a sua linha editorial não apoia.
Trata-se de um antijornalismo nas raias do estouvamento, com figuras como Reinaldo
Azevedo, que, a julgar pelo conteúdo de seus artigos, colunas e inserções na
internet, parece estar a merecer, com sinceridade, urgente tratamento psiquiátrico. Julgo que se a atual presidenta Dilma se reeleger, decerto esta
noite terá que dormir com altas doses de Prozac.
Com efeito, o que a aludida revista fez na sexta-feira passada
(24/10/14) é de uma sordidez sem par – e se expôs a ataques à sua sede, dos
quais poderia, muito bem, passar à margem. Mas o fez jogando com o alto risco
de sua própria continuidade, tanto mais que revistas impressas tendem mesmo a ter
sua importância esvaziada, ante os meios eletrônicos de difusão em franca
expansão.
O certo é que o Brasil está dividido, e isso me faz recordar uma frase,
de cujo autor agora não tenho pleno conhecimento, segundo a qual a política é o meio
mais sórdido para se decidir como amigos podem entrar em discórdia.
Embora meu voto seja para a continuidade da presidência exercida pela
Dilma, não tenho objeções contra quaisquer candidatos – e passo muito bem com
quaisquer deles lá no Palácio do Planalto.
E se houver necessidade de justificar ao leitor o meu voto, diria que,
andando pelo Brasil, de norte a sul – e não apenas de modo concentrado na Região Sudeste –, nos últimos anos tenho visto uma quantidade numerosa de
obras de grande porte – v.g., imensas hidrelétricas e outros empreendimentos – como
jamais houve anteriormente, em especial no Norte e Nordeste do País, ou seja,
exatamente as regiões menos aquinhoadas deste torrão, e não coincidentemente as
regiões onde a atual presidenta encontra os maiores índices de aprovação ao seu
governo.
Sob meu ponto de vista, a perspectiva de que a aprovação de Dilma, com fundamento tão somente na expansão do Programa Bolsa-Família em
tais áreas, mostra-se acentuadamente reducionista. É a influência imediata da
ação governamental na vida das pessoas que lhes modifica a avaliação, ou por
outra, é a dimensão empírica da realidade que resulta vencedora contra eventuais
assimetrias na obtenção de informações.
Bem! Eleja-se quem se eleger, a vitória será meio pirrônica: os custos imediatos
para a maior parte dos que não apoiaram o vencedor não serão desprezíveis. Seja
como for, confio bastante no comportamento amigável do povo brasileiro. Afinal,
somos ou não a nação do lema “Ordem e Progresso”?!
Um grande abraço para todos os brasileiros!
J.A.R. – H.C.
Eduardo Galeano
(n. 1940)
El Sistema / 1
(Eduardo Galeano)
Los funcionarios no
funcionan.
Los políticos hablan,
pero no dicen.
Los votantes votan,
pero no eligen.
Los medios de
información desinforman.
Los centros de
enseñanza enseñan a ignorar.
Los jueces, condenan
a las víctimas.
Los militares están
en guerra contra sus compatriotas.
Los policías no
combaten los crímenes,
porque están ocupados
en cometerlos.
Las bancarrotas se
socializan,
las ganancias se
privatizan.
Es más libre el
dinero que la gente.
La gente, está al
servicio de las cosas.
(En: “El libro de los
abrazos”)
O Sistema / 1
(Eduardo Galeano)
Os funcionários não
funcionam.
Os políticos falam,
mas não dizem.
Os votantes votam,
mas não elegem.
Os meios de
informação desinformam.
Os centros de
aprendizagem ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as
vítimas.
Os militares estão em
guerra contra seus compatriotas.
Os policiais não
combatem os crimes,
porque estão ocupados
em cometê-los.
As bancarrotas são
socializadas,
privatizam-se os lucros.
O dinheiro é mais
livre que as pessoas.
As pessoas estão a
serviço das coisas.
(Em: “O Livro dos Abraços”)
Referência:
GALEANO, Eduardo. Sistema / 1. In:
__________. Entre los poetas míos...
Espanha: Biblioteca Virtual Omegalfa, Marzo 2013. p. 17 (Colección Antológica de
Poesía Social, n. 18). Disponível neste endereço.
Acesso em: 26 out 2014.
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