Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de setembro de 2014

Shelley: Poesia e Amor

O escritor, tradutor, ensaísta e poeta inglês Percy Bysshe Shelley é o autor do famoso ensaio “A Defense of Poetry” (“Uma Defesa da Poesia”) – escrito em 1821, embora publicado apenas postumamente, em 1840 – de onde se extraiu o excerto abaixo.

O ensaio, não muito longo, ainda hoje causa certo espanto, pois, diferentemente de muitos outros que postulam certas regras para o fenômeno poético, não propugna padrões ou juízos estéticos. Notoriamente, em suas entrelinhas, vê-se bem mais a defesa persuasiva de pressupostos românticos, com os quais alinhou sua produção, ao longo de sua breve existência.

Para quem tiver oportunidade, sugiro a leitura do ensaio inteiro, pois ele é farto em passagens que ponteiam como faróis a chamar a atenção do leitor. Exemplos? Vão aqui duas: “A poesia é um espelho que torna belo aquilo que é distorcido” (“Poetry is a mirror which makes beautiful that which is distorted”) ou “Os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo” (“Poets are the unacknowledged legislators of the world”).

J.A.R. – H.C. 
Percy Bysshe Shelley
(1792-1822)
Portrait by Alfred Clint (1819)

Poetry and Love

Poetry lifts the veil from the hidden beauty of the world, and makes familiar objects be as if they were not familiar; it reproduces all that it represents, and the impersonations clothed in its Elysian light stand thenceforward in the minds of those who have once contemplated them, as memorials of that gentle and exalted content which extends itself over all thoughts and actions with which it coexists. The great secret of morals is love; or a going out of our nature, and an identification of ourselves with the beautiful which exists in thought, action, or person, not our own. A man, to be greatly good, must imagine intensely and comprehensively; he must put himself in the place of another and of many others; the pains and pleasure of his species must become his own. The great instrument of moral good is the imagination; and poetry administers to the effect by acting upon the cause. Poetry enlarges the circumference of the imagination by replenishing it with thoughts of ever new delight, which have the power of attracting and assimilating to their own nature all other thoughts, and which form new intervals and interstices whose void forever craves fresh food. Poetry strengthens the faculty which is the organ of the moral nature of man, in the same manner as exercise strengthens a limb. 

Cena do Filme “O Espelho”
Andrei Tarkovsky (1975)

Poesia e Amor

A poesia ergue o véu da beleza oculta do mundo, tornando familiares objetos como se não o fossem; reproduz tudo o que representa e as interpretações envoltas nessa luz Elísia permanecem, desde então, nas mentes daqueles que, uma vez, contemplaram-nas como memoriais daquele gentil e exaltado conteúdo, a estender-se sobre todos os pensamentos e ações com os quais coexistem. O grande segredo da moral é o amor; ou um afastamento de nossa própria natureza, para identificarmo-nos com o belo que existe no pensamento, na ação ou na pessoa que não nós mesmos. Um homem, para ser extraordinariamente bom, deve imaginar com intensidade e abrangência; ele deve se colocar no lugar de outro e de muitos mais; as dores e prazeres de sua espécie devem se tornar os seus próprios. O grande instrumento do bem moral é a imaginação; e a poesia administra o efeito por agir sobre a causa. A poesia expande a circunferência da imaginação ao enchê-la com o pensamento de constantes e novos prazeres, os quais têm o poder de atrair e assimilar à sua própria natureza todos os outros pensamentos, formando, desse modo, novos intervalos e interstícios cujo vazio sempre anseia por mais alimento. A poesia fortalece a faculdade – que é o órgão da natureza moral do homem –, da mesma maneira como o exercício fortalece um músculo.

Referência:

SHELLEY, Percy Bysshe. Poetry and love. In: __________. Shelley on Love: An Anthology. Edited by Richard Holmes. 1.ed. Berkeley and Los Angeles; California: University of California Press, 1980. p. 209.

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