Num decassílabo clássico, Olavo Bilac, talvez o maior de nossos poetas
do período parnasiano, retoma o tema tantas vezes levantado pelos vates, ao
longo da história da literatura: a beleza. E, no caso, resgata a sua também
reiterada associação com a figura feminina, que já entrada em anos, em pleno
curso da fase pós-balzaquiana de sua vida (rs), vê o seu corpo perder o viço da
juventude.
Aparecem-lhe as rugas, os cabelos brancos e tudo mais, consolidando-lhe
a ruína, e, com isso, vem-lhe o pranto vespertino! Em suma: o ponto derradeiro
de um tipo de beleza volátil no tempo. Fazer o quê?! Só recorrendo ao bisturi
do cirurgião plástico!
J.A.R. – H.C.
Olavo Bilac
(1865-1918)
O Crepúsculo da Beleza
Vê-se no espelho; e
vê, pela janela,
A dolorosa angústia
vespertina:
Pálido, morre o sol…
Mas, ai! termina
Outra tarde mais
triste, dentro dela;
Outra queda mais
funda lhe revela
O aço feroz, e o
horror de outra ruína:
Rouba-lhe a idade,
pérfida e assassina,
Mais do que a vida, o
orgulho de ser bela!
Fios de prata… Rugas…
O desgosto
Enche-a de sombras,
como a sufocá-la
Numa noite que aí
vem… E no seu rosto
Uma lágrima trêmula
resvala,
Trêmula, a cintilar,
– como, ao sol posto,
Uma primeira estrela
em céu de opala…
Aunt Karen in the Rocking Chair
(Edvard Munch: 1863-1944)
Referência:
BILAC, Olavo. O crepúsculo da beleza.
In: __________. Poesias. Tarde. São
Paulo: Martin Claret, 2011. p. 191. (Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”; 119)
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