A beleza sempre reaparece como tema dos poetas, pois é conteúdo imanente
da poesia, assim como esta semelhantemente, em metadiscursos, converte-se em
objeto de considerações nos remansos do Parnaso.
Nesse plano, a obra do poeta paulista Amadeu Amaral, 1875-1929, é repleta de
criações normativas sobre ambos os temas. Com relação à poesia, já aqui postamos um
belo poema em que a metaforiza na figura de uma mulher. Quanto à beleza,
transcrevemos, mais ao sul, um dos seis sonetos – exatamente o terceiro – por
ele dedicados “a um adolescente”, até onde se pode perceber na referência
assinalada, com o nome de Júlio Mesquita Filho.
Há de se “crer” na beleza: como diz Amaral, ela é a “suprema pesquisa”
que se há de empreender no universo, eis que se aparta de tudo aquilo que não é
sublime.
A acompanhar o soneto, incorporamos duas belíssimas reproduções de
pinturas do francês Antoine Blanchard (Marcel Masson), 1910-1988,
extraídas do site que lhe dedicaram na internet.
Afinal, Paris é uma das cidades mais formosas do mundo. Logo, tudo a ver com esta
postagem!
J.A.R. – H.C.
Champs-Élysées
Basta crer na Beleza.
Ama-a no Cosmos, fora
de ti, e ama-a em ti
mesmo. É a suprema pesquisa!
Busca-a. E esculpe
teu ser, juntando, hora por hora,
à mente que concebe o
escopro que realiza.
Perguntas: – “Onde o
metro, a norma, a arte precisa
para rasgar no bloco
a forma que se ignora?”
– Quem ao leão deu o
ardor com que os desertos pisa?
E quem à águia
ensinou a ser do azul senhora?
Tens o instinto
voador de quem nasceu com asas.
Ama o que é forte e
puro, odeia o que é perverso,
o que é baixo, o que
é vil, tudo o que anda de rastros.
E põe-te em comunhão,
no entusiasmo em que abrasas,
com a Beleza,
esplendor da Vida e do Universo,
com a poesia, os
heróis, os abismos e os astros.
Boulevard Haussmann
Referência:
AMARAL, Amadeu. Poesias. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1931. p. 85.
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