Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Cyprian Kamil Norwid – A Morte da Poesia

Tornou-se quase um truísmo, nos últimos tempos, vaticinar a morte de alguma coisa, seja uma ciência, seja algum ramo qualquer da experiência humana, tudo pela justificação de um túrbido pós-modernismo. Senão vejamos: Francis Fukuyama prognosticou “O Fim da História”; Paul Ormerod afirmou que “A Economia Morreu”; Sam Harris predisse “A Morte da Fé”; Francis Schaeffer pressagiou “A Morte da Razão”; Hans Belting profetizou “O Fim da História da Arte”; e por aí vai.

Mas... e a poesia?! O poeta polonês Cyprian Kamil Norwid, em pleno século XIX, há mais de cem anos portanto, contemplou o seu enterro! E elaborou uma poesia sobre a “A Morte da Poesia”, que transcrevemos a seguir, no original e em sua versão ao português.

Mas o que houve com a poesia, se ela ainda está por aí? Imagino que devem tê-la sepultado ainda viva, e mesmo que moribunda, vem se sustentando cambaleante até os nossos dias! (rs).

Outros autores, infensos a tais enunciados sentenciosos, sustentam um discurso contra não apenas a morte da poesia, senão a morte da arte em geral. É o caso do poeta maranhense Ferreira Gullar, com a sua obra “Argumentação Contra a Morte da Arte”.

É o nosso caso, também: amamos a poesia e trazemo-la viva e altaneira em nosso quotidiano. “In saeculorum saecula”.

J.A.R. – H.C. 
Cyprian Kamil Norwid
(1821-1883)

Na Zgon Poezji
(Elegia)

Ona umarła!... są-ż smutniejsze zgony?
I jak pogrzebać tę śliczną osobę?
Umarła ona na ciężką chorobę,
Która się zowie: pieniądz i bruliony.
Pamiętasz dobrze oną straszną dobę,
Gdy przed jej łożem stałem zamyślony,
Łzę mając wielką w oku, co szukało,
Czy to, co gaśnie, jest duch albo ciało?

Ona zaś (mówię: Poezja), swe ramię
Blade ku oknu niosąc, znak mi dała,
Bym światło przyćmił, bo uśmiechy kłamie,
Jakby jej w oczy wiosna urągała.
Nie wiem, czy ranę dostrzegłem, czy znamię,
Pod lewej piersi cieniem, gdy zadrżała?...
O, byłem smętny, jak odtąd nie bywam,
Gdy mam już cmentarz i na nim kwiat zrywam.

Umarła ona (Poezja), ta wielka
Niepojednanych dwóch sfer pośrednica,
Ocean chuci i rosy kropelka,
Ta monarchini i ta wyrobnica –
Zarazem wielce wyłączna i wszelka,
Ta błyskawica i ta gołębica...
Gdy ci, co grzebać mają za rzemiosło,
Idą już piaskiem zasypywać wzniosłą!

Odtąd w przestronnym milczenia kościele,
Po brukowaniu się przechodząc płaskiem,
Nie jej ja depcę grób... lecz po tych dziele
Stąpam, co cmentarz wyrównali piaskiem.
Aż się zamyślą myśli niszczyciele,
I grom zawołam, by uderzał z trzaskiem,
Wiedząc, iż ogień dla bez ognia ludzi,
Choćby w krzemieniach spał, w niebie się zbudzi.

[Ivry (FR), 1877] 


A Morte da Poesia
(Elegia)

Ela morreu!... Há óbito mais triste?
Como sepultar tão bela pessoa?
Faleceu de uma grave enfermidade,
Como seja: dinheiro e cadernos de bosquejos.
Recordas-te daquele terrível dia,
Em que estive pensativo frente ao seu leito de morte,
E veio-me uma grande lágrima à face, porque buscava
Saber se o que se apaga é o espírito ou o corpo?

E ela (refiro-me à poesia), por sua vez, apontando
O pálido braço em direção à janela, fez-me um sinal
Para que diminuísse a luz, porque ludibria os sorrisos,
Como se a primavera se despojasse diante de seus olhos.
Não sei se percebi uma ferida ou cesura,
Sob a sombra do peito esquerdo, quando estremeceu?...
Oh, estava triste, pois doravante não há de me visitar,
A cada vez que, passeando pelo cemitério, arrancar-lhe um flor.

Ela morreu (a poesia), a grande
Mediadora das duas esferas inconciliáveis,
Oceano de luxúria e gota de orvalho,
Essa imperatriz, essa operária –
Única e comum a um só tempo,
Esse fulgor e essa pomba...
Em breve virão te sepultar, como uma artesã,
A cobrir-te de areia num sublime aterro!

Desde então, na ampla igreja do silêncio,
Quando passo pela areia do lajedo,
Eu não pisoteio sua tumba, mas a obra daqueles
Que aplainaram o cemitério com terra.
Até que os destruidores de pensamentos reconsiderem,
Clamarei para que sobrevenha um raio com estrondosa descarga,
Sabendo que o fogo é para as pessoas sem fogo,
Ainda que durmam sobre silicatos e despertem no céu.

[Ivry (FR), 1877]

Referência:

NORWID, Cyprian Kamil. Na Zgon Poezji. In: __________. Wiersze Wybrane. Gdański (PL): Instytutu Filologii Polskiej Uniwersytetu Gdańskiego, [2003]. p. 131. (Wirtualnej Biblioteki Literatury Polskiej). Disponível neste endereço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário