Tornou-se quase um truísmo, nos últimos tempos, vaticinar a morte de
alguma coisa, seja uma ciência, seja algum ramo qualquer da experiência humana, tudo pela justificação de um túrbido pós-modernismo. Senão vejamos: Francis Fukuyama prognosticou “O Fim da História”; Paul Ormerod
afirmou que “A Economia Morreu”; Sam Harris predisse “A Morte da Fé”; Francis
Schaeffer pressagiou “A Morte da Razão”; Hans Belting profetizou “O Fim da História
da Arte”; e por aí vai.
Mas... e a poesia?! O poeta polonês Cyprian Kamil Norwid, em pleno
século XIX, há mais de cem anos portanto, contemplou o seu enterro! E elaborou
uma poesia sobre a “A Morte da Poesia”, que transcrevemos a seguir, no original
e em sua versão ao português.
Mas o que houve com a poesia, se ela ainda está por aí? Imagino que devem
tê-la sepultado ainda viva, e mesmo que moribunda, vem se sustentando
cambaleante até os nossos dias! (rs).
Outros autores, infensos a tais enunciados sentenciosos, sustentam um discurso contra
não apenas a morte da poesia, senão a morte da arte em geral. É o caso do poeta
maranhense Ferreira Gullar, com a sua obra “Argumentação Contra a Morte da Arte”.
É o nosso caso, também: amamos a poesia e trazemo-la viva e altaneira em
nosso quotidiano. “In saeculorum saecula”.
J.A.R. – H.C.
Cyprian Kamil Norwid
(1821-1883)
Na Zgon Poezji
(Elegia)
Ona umarła!... są-ż smutniejsze zgony?
I jak pogrzebać tę śliczną
osobę?
Umarła ona na ciężką chorobę,
Która się zowie: pieniądz i bruliony.
Pamiętasz dobrze oną straszną dobę,
Gdy przed jej łożem stałem zamyślony,
Łzę mając wielką w
oku, co szukało,
Czy to, co gaśnie, jest duch
albo ciało?
Ona zaś (mówię: Poezja), swe
ramię
Blade ku oknu niosąc, znak mi
dała,
Bym światło
przyćmił, bo uśmiechy kłamie,
Jakby jej w oczy wiosna urągała.
Nie wiem, czy ranę dostrzegłem,
czy znamię,
Pod lewej piersi cieniem, gdy zadrżała?...
O, byłem smętny, jak odtąd nie bywam,
Gdy mam już cmentarz i na nim kwiat zrywam.
Umarła ona (Poezja),
ta wielka
Niepojednanych dwóch
sfer pośrednica,
Ocean chuci i rosy kropelka,
Ta monarchini i ta
wyrobnica –
Zarazem wielce wyłączna i wszelka,
Ta błyskawica i ta
gołębica...
Gdy ci, co grzebać
mają za rzemiosło,
Idą już piaskiem zasypywać wzniosłą!
Odtąd w przestronnym milczenia kościele,
Po brukowaniu się przechodząc płaskiem,
Nie jej ja depcę grób... lecz po tych dziele
Stąpam, co cmentarz wyrównali piaskiem.
Aż się zamyślą myśli niszczyciele,
I grom zawołam, by uderzał z trzaskiem,
Wiedząc, iż ogień dla bez ognia
ludzi,
Choćby w krzemieniach spał, w niebie się zbudzi.
[Ivry (FR), 1877]
A Morte da Poesia
(Elegia)
Ela morreu!... Há
óbito mais triste?
Como sepultar tão
bela pessoa?
Faleceu de uma grave
enfermidade,
Como seja: dinheiro e
cadernos de bosquejos.
Recordas-te daquele
terrível dia,
Em que estive
pensativo frente ao seu leito de morte,
E veio-me uma grande
lágrima à face, porque buscava
Saber se o que se
apaga é o espírito ou o corpo?
E ela (refiro-me à
poesia), por sua vez, apontando
O pálido braço em
direção à janela, fez-me um sinal
Para que diminuísse a
luz, porque ludibria os sorrisos,
Como se a primavera
se despojasse diante de seus olhos.
Não sei se percebi
uma ferida ou cesura,
Sob a sombra do peito
esquerdo, quando estremeceu?...
Oh, estava triste,
pois doravante não há de me visitar,
A cada vez que, passeando
pelo cemitério, arrancar-lhe um flor.
Ela morreu (a
poesia), a grande
Mediadora das duas
esferas inconciliáveis,
Oceano de luxúria e
gota de orvalho,
Essa imperatriz, essa
operária –
Única e comum a um só
tempo,
Esse fulgor e essa
pomba...
Em breve virão te
sepultar, como uma artesã,
A cobrir-te de areia
num sublime aterro!
Desde então, na ampla
igreja do silêncio,
Quando passo pela
areia do lajedo,
Eu não pisoteio sua
tumba, mas a obra daqueles
Que aplainaram o
cemitério com terra.
Até que os
destruidores de pensamentos reconsiderem,
Clamarei para que sobrevenha
um raio com estrondosa descarga,
Sabendo que o fogo é
para as pessoas sem fogo,
Ainda que durmam
sobre silicatos e despertem no céu.
[Ivry (FR), 1877]
Referência:
NORWID, Cyprian Kamil. Na Zgon Poezji. In: __________. Wiersze Wybrane. Gdański (PL): Instytutu
Filologii Polskiej Uniwersytetu Gdańskiego, [2003].
p. 131. (Wirtualnej Biblioteki Literatury Polskiej). Disponível neste endereço.
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