Tenho
lido boa parte do debate que se instaurou entre dois renomados economistas
pátrios – Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, e Samuel Pessoa, da FGV-SP –, sobre a
relevância ou não da indústria para o desenvolvimento de um país, ou melhor, se
há relação direta entre ser desenvolvido e o nível de participação da indústria
no PIB de uma dada economia.
Esse
debate, abstraindo-se o narcisismo velado que pode ser constatado nos
argumentos de ambas as partes, parece emergir de um universo econômico no qual,
entre os seus contrafortes, há monturos de mofo ideológico.
Sustenta-se
ele nas vetustas antinomias que, já lá pelos anos 80, colocavam em contraste
escolas que se pautavam pela busca renhida de evidências empíricas, capazes de
sustentar as relações mais prosaicas, com outras que davam prevalência a
explicações econômicas historiográficas. Ou por outra: de um lado, propostas de resgate radical da dimensão humana da Ciência Econômica; e de outro, projetos diversificados voltados a transformá-la em uma lídima “ciência exata”.
Nesse
contexto, os debates até podem ser primorosos sob o ponto de vista do uso do
vernáculo, mas navegam num panorama desértico e gélido, que se duvidar, é o porto
em que a dita “Ciência Econômica” ousou ancorar já há décadas. Isto se tais
debates não forem também extemporâneos: por que dialogar com teses cepalinas,
se há tantas outras vertentes e ideias borbulhando nos interstícios da realidade
contemporânea?
Belluzzo
até busca ampliar o campo de sua visão, lançando mão de associações do
econômico com o sociológico, quando não, com o literário. Nomeia, para tanto,
Norbert Elias, um mestre no campo da Sociologia – quem ousaria destratar o seu
hoje clássico “O Processo Civilizador”? –, e vários escritores de renome –
entre eles Balzac e Zola – em cujas obras estão presentes acerbas descrições do
processo de mudança por que passaram as sociedades ocidentais, no bojo das
transformações patrocinadas pela denominada “Marcha da Industrialização”.
Além
disso, concentra-se em rejeitar, não com números senão com descrições
exatamente da História Econômica, a tese de Pessoa – esta, sim, mais para
suscitar dissonâncias do que para servir como ponto arquimediano inatacável, a
partir do qual seja possível erigir qualquer construto intelectivamente
defensável –, de que não haveria “[...] evidência empírica de que a indústria
seja especial sob algum critério”.
Sob tal
cenário, a discussão parece algo bizantina: a dimensão econômica da atividade
humana é um correlato humano (que truísmo!) – e não físico ou econométrico –, e
o ato de julgar se uma dada ação ou rota de trabalho está correta ou equivocada
é um problema de política econômica – e Keynes diria política econômica de
curto e médio prazos!
Afinal,
qualquer que seja a modelagem que se crie para o longo prazo, abraçará o fado do fracasso: está por aparecer um modelo econométrico que tenha acertado as suas
previsões com mirada no horizonte de decênios. Acertos de modelos econômicos para
tal fronteira temporal são tão improváveis quanto um “camelo passar no fundo de
uma agulha”!
Com
efeito, caso se queira mudar algo no plano econômico, no curto ou médio prazos,
com um modelo que forneça boa dose de correlação entre variáveis endógenas e
exógenas, muda-se o que se quer ou o que se tenha que mudar! Se não se adota a
medida, é uma decisão de política, pragmaticamente adotada por quem tem o poder
de decidir. E ponto final!
Pobre
da Ciência Econômica, tão carente de um repertório mais variegado de políticas!
Até mesmo o FMI, que há algumas décadas era o rígido arauto da redução a todo
custo do déficit público – mesmo que isso não levasse a economia de um país
para onde, efetivamente, o seu governo julgasse que seria o desejável! –, aparece
nestes dias, como num poema pessoano, a voltar a face para o lado oposto,
quando alerta as nações de que a má distribuição de renda é capaz de afetar o
crescimento global, gerando instabilidade política. Surpresa?! Contradição?! Dizer o quê?!
Se um
economista está alinhado com as diretrizes levadas a efeito pelo Governo
Federal e o outro parece haver aderido a um grupo que lhe faz oposição – com
pretensões de ascender ao Palácio do Planalto no início de 2015 –, poderiam eles
poupar o grande público. Afinal, apenas este tem o poder de a tudo julgar –
economia, ética pública, ações coletivas etc. –, e sempre em última instância:
em outubro saberemos para onde o povo espera voltar-se!
A Política nunca morrerá de tédio como a Economia!
J.A.R.-H.C.
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