Vênus de Milo - Protótipo de Beleza
A
beleza, enquanto objeto da estética ou, mais vastamente, da filosofia, já
serviu de tema para inúmeros poemas, alguns deles presentes até hoje no
firmamento irrecorrível a que sempre aportamos, quando perseguimos os lugares imaginários
onde o prazer se alberga – como o que Bandeira denominou por “Pasárgada” –, ainda
que, no plano terreno, tal não passe de um sítio arqueológico no contemporâneo
Irã, tombado como patrimônio mundial pela Unesco (rs).
Mas
vamos lá: recorro, em primeira instância, para nos fornecer uma primeira
definição da beleza, ao soneto do poeta paulista Afonso Schmidt (1890-1964).
Nele
se percebe um escopo menos iconoclasta dos conceitos a que comumente se associa
o belo – as primícias do jardim edênico –, haja vista que alude também aos
desertos da dor e da tortura. Seja como for, a percepção do poeta mostra-se
plena, quando se reporta à beleza em seus três mananciais primários: a arte, a
natureza e o domínio do humano.
Para
apreciar!
J.A.R.
– H.C.
Afonso
Schmidt
A BELEZA
Neste crisol do coração,
Beleza
Que iluminas a nossa noite
escura,
És a Bondade – que se fez
Grandeza
E a Dor sofrida – que se
fez Doçura.
És a muda expressão da
Natureza;
Beijo no amor, sorriso na
candura,
Prece na morte, pranto na
tristeza
E, para os poetas, mística
tortura.
Ninfeia azul no pântano
estagnado,
Flores brotando na aridez
das lousas,
Ou mistério no páramo
estrelado,
Em tudo o que nos cerca tu
repousas,
Porque a Beleza é Deus
manifestado
A nos sorrir pela
expressão das cousas.
Referência:
SCHMIDT, Afonso. A beleza. In: VALADARES, Napoleão. De Gregório a Drummond: sonetos.
Brasília: André Quicé, 1999. p. 167.
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