Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 27 de março de 2014

Definição da Beleza (I)


Vênus de Milo - Protótipo de Beleza

A beleza, enquanto objeto da estética ou, mais vastamente, da filosofia, já serviu de tema para inúmeros poemas, alguns deles presentes até hoje no firmamento irrecorrível a que sempre aportamos, quando perseguimos os lugares imaginários onde o prazer se alberga – como o que Bandeira denominou por “Pasárgada” –, ainda que, no plano terreno, tal não passe de um sítio arqueológico no contemporâneo Irã, tombado como patrimônio mundial pela Unesco (rs).

Mas vamos lá: recorro, em primeira instância, para nos fornecer uma primeira definição da beleza, ao soneto do poeta paulista Afonso Schmidt (1890-1964).

Nele se percebe um escopo menos iconoclasta dos conceitos a que comumente se associa o belo – as primícias do jardim edênico –, haja vista que alude também aos desertos da dor e da tortura. Seja como for, a percepção do poeta mostra-se plena, quando se reporta à beleza em seus três mananciais primários: a arte, a natureza e o domínio do humano.

Para apreciar!

J.A.R. – H.C.


Afonso Schmidt

A BELEZA

Neste crisol do coração, Beleza
Que iluminas a nossa noite escura,
És a Bondade – que se fez Grandeza
E a Dor sofrida – que se fez Doçura.

És a muda expressão da Natureza;
Beijo no amor, sorriso na candura,
Prece na morte, pranto na tristeza
E, para os poetas, mística tortura.

Ninfeia azul no pântano estagnado,
Flores brotando na aridez das lousas,
Ou mistério no páramo estrelado,

Em tudo o que nos cerca tu repousas,
Porque a Beleza é Deus manifestado
A nos sorrir pela expressão das cousas.

Referência:
SCHMIDT, Afonso. A beleza. In: VALADARES, Napoleão. De Gregório a Drummond: sonetos. Brasília: André Quicé, 1999. p. 167.

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