Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de março de 2014

Antologia Pornográfica - Alexei Bueno


O que se poderia esperar de uma “Antologia Pornográfica”, tal como a organizada por Alexei Bueno, para a editora Nova Fronteira, ora reeditada pela Saraiva? Muito além de um substrato eminentemente erótico, o que se vê é o depravado e o obsceno enquadrados sob formas frequentemente empregadas nas criações poéticas clássicas, como odes e sonetos.

A antologia em questão pretende ser uma recolha daquilo que de “melhor” se produziu sobre o tema, tanto aqui no Brasil quanto em Portugal.

Monumento a Bocage em Setúbal (Portugal)

E para “abrilhantar” este espaço, transcrevo uma das poesias selecionadas de Bocage, autor que, somente muito tempo depois, já adulto – quando entrei em contato com uma coletânea de suas poesias, na biblioteca da universidade –, vim a saber das razões pelas quais meu falecido pai, lusitano como o poeta, fazia alusões pouco favoráveis às suas obras sem enunciar-me os motivos (rs):

Soneto II

Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sub venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.

Referência:

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Soneto II. In: BUENO, Alexei. Antologia pornográfica: de Gregório de Matos a Glauco Mattoso. Rio de Janeiro: Saraiva, 2011. (Saraiva de bolso). p. 106.

J.A.R. – H.C.

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