O que se poderia esperar de
uma “Antologia Pornográfica”, tal como a organizada por Alexei Bueno, para a editora Nova Fronteira, ora reeditada pela Saraiva? Muito além de um substrato eminentemente erótico, o que se vê
é o depravado e o obsceno enquadrados sob formas frequentemente empregadas nas criações
poéticas clássicas, como odes e sonetos.
A antologia em questão
pretende ser uma recolha daquilo que de “melhor” se produziu sobre o tema, tanto
aqui no Brasil quanto em Portugal.
Monumento a Bocage em Setúbal (Portugal)
E para “abrilhantar” este
espaço, transcrevo uma das poesias selecionadas de Bocage, autor que, somente
muito tempo depois, já adulto – quando entrei em contato com uma coletânea de
suas poesias, na biblioteca da universidade –, vim a saber das razões pelas
quais meu falecido pai, lusitano como o poeta, fazia alusões pouco favoráveis às
suas obras sem enunciar-me os motivos (rs):
Soneto II
Lá
quando em mim perder a humanidade
Mais
um daqueles, que não fazem falta,
Verbi gratia – o teólogo, o peralta,
Algum
duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não
quero funeral comunidade,
que
engrole sub venites em voz alta;
Pingados
gatarrões, gente de malta,
Eu
também vos dispenso a caridade:
Mas
quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro
me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me
este epitáfio mão piedosa:
“Aqui
dorme Bocage, o putanheiro:
Passou
a vida folgada, e milagrosa;
Comeu,
bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
Referência:
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Soneto II. In: BUENO, Alexei. Antologia pornográfica: de Gregório de
Matos a Glauco Mattoso. Rio de Janeiro: Saraiva, 2011. (Saraiva de bolso).
p. 106.
J.A.R. – H.C.
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