Manuel
Bandeira, poeta nascido no Recife, pernambucano portanto, escreveu em 1928 um
poema em homenagem à cidade de Belém do Pará, porto fundado por portugueses
estrategicamente à foz do Rio Amazonas, lá no longínquo ano de 1616, para
guarnecer a região contra outros potenciais conquistadores.
No
poema, já há referência ao fato de a cidade ser arborizada com mangueiras,
medida que teve início, no limiar do Século XX, por ordem do então intendente
Antônio Lemos – originário do Maranhão –, que, havendo importado as mudas
diretamente da Índia, plantou-as ao longo de suas principais avenidas. Daí o
designativo pelo qual Belém, até os presentes dias, costuma ser chamada: “A
Cidade das Mangueiras”.
“Belém,
eu te quero bem”: daqui a pouco menos de dois anos, completaremos quatrocentos
janeiros chuvosos...
J.A.R.
− H.C.
Belém do Pará
Belém do Pará
Bembelelém
Viva
Belém!
Belém
do Pará porto moderno integrado na equatorial
Beleza
eterna da paisagem
Bembelelém
Viva
Belém!
Cidade
pomar
(Obrigou
a polícia a classificar um tipo novo de delinquente:
O
apedrejador de mangueiras)
Bembelelém
Viva
Belém!
Belém
do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada
de São Jerônimo
Estrada
de Nazaré
Onde
a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca
de
todas as cidades do Brasil
Se
chama liricamente
Brasileiramente
Estrada
do Generalíssimo Deodoro
Bembelelém
Viva
Belém!
Nortista
gostosa
Eu
te quero bem.
Terra
da castanha
Terra
da borracha
Terra
de biribá bacuri sapoti
Terra
de fala cheia de nome indígena
Que
a gente não sabe se é de fruta pé de pau
ou
ave de plumagem bonita.
Nortista
gostosa
Eu
te quero bem.
Me
obrigarás a novas saudades
Nunca
mais me esquecerei do teu Largo da Sé
Com
a fé maciça das duas maravilhosas igrejas barrocas
E
o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos
Nunca
mais me esquecerei
Das
velas encarnadas
Verdes
Azuis
Da
doca de Ver-o-Peso
Nunca
mais
E
foi pra me consolar mais tarde
Que
inventei esta cantiga:
Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.
(Belém, 1928)
Referência:
BANDEIRA,
Manuel. Antologia poética. 6. ed.
Rio de Janeiro: Sabiá, 1961. p. 75-77.
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