Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de março de 2014

Manuel Bandeira - Belém do Pará

Manuel Bandeira, poeta nascido no Recife, pernambucano portanto, escreveu em 1928 um poema em homenagem à cidade de Belém do Pará, porto fundado por portugueses estrategicamente à foz do Rio Amazonas, lá no longínquo ano de 1616, para guarnecer a região contra outros potenciais conquistadores.

No poema, já há referência ao fato de a cidade ser arborizada com mangueiras, medida que teve início, no limiar do Século XX, por ordem do então intendente Antônio Lemos – originário do Maranhão –, que, havendo importado as mudas diretamente da Índia, plantou-as ao longo de suas principais avenidas. Daí o designativo pelo qual Belém, até os presentes dias, costuma ser chamada: “A Cidade das Mangueiras”.

“Belém, eu te quero bem”: daqui a pouco menos de dois anos, completaremos quatrocentos janeiros chuvosos...

J.A.R. − H.C.

Belém do Pará

Belém do Pará

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial
Beleza eterna da paisagem

Bembelelém
Viva Belém!

Cidade pomar
(Obrigou a polícia a classificar um tipo novo de delinquente:
O apedrejador de mangueiras)

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré
Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca
de todas as cidades do Brasil 
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro

Bembelelém
Viva Belém! 
Nortista gostosa
Eu te quero bem.

Terra da castanha
Terra da borracha
Terra de biribá bacuri sapoti
Terra de fala cheia de nome indígena
Que a gente não sabe se é de fruta pé de pau
ou ave de plumagem bonita. 

Nortista gostosa
Eu te quero bem.

Me obrigarás a novas saudades
Nunca mais me esquecerei do teu Largo da Sé
Com a fé maciça das duas maravilhosas igrejas barrocas
E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos

Nunca mais me esquecerei
Das velas encarnadas 
Verdes
Azuis
Da doca de Ver-o-Peso
Nunca mais

E foi pra me consolar mais tarde

Que inventei esta cantiga: 

Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.

(Belém, 1928)

Referência:

BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 6. ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1961. p. 75-77.

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