Um terceiro
e último poema de Natal de Fernando Pessoa. À moda de quadras, o autor cisma em
desenhar um quadro antitético, a confrontar o que vai em seu íntimo – que se
percebe, em suspenso, de mal a pior –, com um clima temporal ao norte ainda
mais acirrado que o do local onde se encontra, e que, ainda assim, considera
melhor, se cotejado ao humor próprio, pouco afeito às alegrias convencionais
das festas de Natal.
Chove. É Dia de Natal.
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
[25.12.1930]
Referência:
PESSOA, Fernando. Obra
poética. 8. ed. Rio de Janeiro, RJ:
Nova Aguilar, 1981. (Biblioteca Luso-Brasileira).
p. 88
J.A.R. – H.C.
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