Mais um poema do lusitano Fernando Pessoa, tendo por motivo o Natal. Um poema cético, é verdade, e de matiz ocultista, pois revela a presença de um eterno retorno do divino, em seu longo trânsito pelo ciclo de nascimento, vida e morte. Tudo muito humano, "demasiado humano", como diria Nietzsche.
NATAL
Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
Referência:
PESSOA, Fernando. Obra
poética. 8. ed. Rio de Janeiro, RJ:
Nova Aguilar, 1981. (Biblioteca Luso-Brasileira).
p. 73
J.A.R. – H.C.
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