Entre as lutas por
que passa uma pessoa, no amplo e complexo espectro das experiências humanas,
está a de encontrar um “lar”, um lugar no mundo, luta essa que se passa tanto
no plano físico quanto no emocional, e que, se inglória, poderá encaminhá-la a
submergir na desolação, quiçá na autodestruição, levando-a a vagar sem rumo,
sem encontrar algo de mais significativo, sem um sentido de pertencimento e de
autenticidade na vida.
A percepção de que se
está cingido por uma roda de mentiras, de onde a verdade se exilou, acaba por
gerar forças de aversão e de ressentimento a si próprio: como alguém haveria de
encontrar uma felicidade genuína em tal cenário de adversidades?!
Cumpre, a quem nesse
estado, dar início a uma jornada de “cura”, de autoconhecimento, de ponderações
acerca dos seus valores, de suas convicções, do padrão de seus processos
mentais e comportamentais, para poder assim romper o ciclo que oblitera a
presença de um “céu azul de brigadeiro”, de pleno crescimento pessoal.
J.A.R. – H.C.
Karin Boye
(1900-1941)
Hemlös
Att mista själens hem
och vandra långt
och intet annat kunna
hitta sen,
och finna att man
glömt vad sanning är,
och tycka man är
gjord av bara lögn,
och vämjas vid sig
själv och hata sig –
ja det är lätt, ja
det är ganska lätt.
Sorgen är lätt, men
glädjen stolt och svår,
ty glädjen är det
enklaste av allt.
Men den, som söker
sig ett hem för sig,
får inte tro, att det
finns var som helst –
han måste vandra
hemlös någon tid;
och den som är av
lögn och vill bli frisk,
han måste hata sig
till det han kan
av sanning, som de
andra få till skänks.
Vad är det värt att
sörja så för det?
Vänta, mitt hjärta,
och ha tålamod!
In: “Moln” (1922)
Desabrigados
(Thomas B.
Kennington: pintor inglês)
Desabrigado
Perder o lar da alma
e peregrinar distante
e depois nada mais poder
achar,
e descobrir que se
esqueceu o que é a verdade,
e achar que só de
mentira se é feito,
e habituar-se consigo
e odiar-se –
é fácil, sim é muito
fácil.
Tristeza é fácil,
rnas alegria, orgulhosa e difícil,
Pois alegria é o mais
simples de tudo.
Mas aquele que busca para
si um lar,
não deve crer que se
ache em qualquer lugar –
precisa peregrinar desabrigado
por um tempo;
e quem é feito de
mentira e quer sarar-se,
precisa odiar-se até poder
de verdade, essa que aos
outros se dá.
Qual o valor de se
entristecer por isso?
Espera, meu coração,
e tenha paciência!
Em: “Nuvens” (1922)
Referências:
Em Sueco
BOYE, Karin. Hemlös.
In: __________. Dikter. Stockholm, SE: BoD - Books on Demand, 2019. s.
44.
Em Português
BOYE, Karin.
Desabrigado. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Poesia sempre:
revista semestral de poesia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ),
ano 13, n. 25, p. 155, dez. 2006.
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