Seguir pela vida numa
atuação sem esforço, seguindo o fluxo natural das coisas, prezando por se
relacionar, com quem quer que seja, com autenticidade e veracidade, sem forçar
o momento ou as circunstâncias: este parece ser o ponto vital neste aforismo de
Lao-Tzu, a nos recordar de que o conhecimento verdadeiro vale bem mais do que
as meras técnicas ou ferramentas analíticas de que dispomos.
Quando estamos em harmonia
com o Tao, prescindimos de chaves que nos tranquem as portas de contato com o
exterior para que possamos manter nossas integridade e segurança intrínsecas, pois
que nosso escudo de proteção, orientando-se ao infranqueável, não se pauta por
barreiras tangíveis.
No que quer que façamos,
em qualquer atividade que empreendamos, busquemos a maestria e a precisão, com
cuidado e atenção ao detalhe, servindo aos menos experientes como um exemplo a
ser seguido, de naturalidade, lucidez, sabedoria e excelência no agir: nada
melhor para um pupilo do que as preleções do mestre, induzidoras de um pensamento não dogmático, ativo, questionador, crítico, para o alcance de suas próprias conclusões,
ganhos teóricos e benefícios práticos, auxiliando-o na conquista do que lhe
falta.
J.A.R. – H.C.
Lao-Tzu
(571 a.C. - 531 a.C.)
XXVII
O bom andarilho não
deixa rastros.
O bom orador não
precisa desmentir nada.
O bom matemático não
precisa de um ábaco.
O bom guardião não precisa
de fechadura nem de chave,
e mesmo assim ninguém
pode abrir o que ele guardou.
O que sabe amarrar
bem não precisa de corda nem de fitas,
e ainda assim ninguém
pode desatar o que ele atou.
O Sábio sempre sabe
como salvar os homens;
por isso não existem
para ele homens abjetos.
Ele sempre sabe como
salvar as coisas;
por isso para ele não
há coisas abjetas.
Isso quer dizer:
viver na lucidez.
Assim, os homens de
bem ensinam aos menos bons.
Quem não honra seus
mestres
nem ama sua própria
matéria
estará em grave erro,
a despeito de todo o seu conhecimento.
Esse é o grande
segredo.
O Andarilho
(Josef Sigall: pintor
polonês)
Referência:
LAO-TZU. XXVII - O
bom andarilho não deixa rastros. Tradução de Margit Martincic. In: __________. Tao-Te
King: o livro do sentido e da vida. Texto e comentário por Richard Wilhelm.
Tradução de Margit Martincic. 1. ed., 15. reimp. São Paulo, SP: Pensamento,
2012. p. 63.
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