Em
Paz
Já bem perto do ocaso, eu te
bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança
mentida,
nem trabalhos injustos, nem pena
imerecida.
Porque vejo, ao final de tão rude
jornada,
que a minha sorte foi por mim mesmo
traçada;
que, se extraí os doces méis ou o
fel das cousas,
foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando eu plantei roseiras, eu colhi
sempre rosas.
...Decerto, aos meus ardores, vai
suceder o inverno:
Mas tu não me disseste que maio
fosse eterno!
Longas achei, confesso, minhas
noites de penas;
Mas não me prometeste noites boas,
apenas,
E em troca tive algumas santamente
serenas…
Fui amado, afagou-me o Sol. Para quê
mais?
Vida, nada me deves! Vida, estamos
em paz!
Referência:
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Seleta e Tradução). Grandes vozes líricas hispanoamericanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 37.
J.A.R. - H.C.
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