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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Poema de Natal - Vinicius de Moraes

Vai aqui mais um poema com motivo natalino. Desta feita, da lavra do "poetinha" carioca, que depois se tornou parceiro de Toquinho, compondo a famosa dupla Vinicius & Toquinho. Quem não se lembra da maravilhosa composição "Aquarela", de meados da década de 80?

O poema em questão consta da obra "Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século", com seleção de José Nêumanne Pinto, que veio à lume, em segunda edição, no ano de 2004, pela editora Geração, de São Paulo. 

Pelo que se depreende da súmula da obra do autor, elaborada por Nêumanne à pág. 129, tratar-se-ia de um poema da primeira fase do poeta, cuja produção dispõe de certo "(...) caráter místico, perpassado de angústia, culpa, sendo os versos derramados, em tom declamatório".


POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

[1946]

Referência:
MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo:
Companhia das Letras, 1002. p. 144-145.

J.A.R. – H.C.

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