Estive me deliciando nos últimos dias, minuciosamente, com os "Poemas Místicos" de Jalal ud-Din Rumi, em tradução de José Jorge de Carvalho, pelo Editorial Attar. Posso afirmar que foram alguns dos poemas mais belos que li em toda a minha vida, seja em razão, obviamente, de a presença indelével do elemento metafísico dos textos projetar o leitor às alturas, seja porque, vezes sem conta, leva-o a associações que estão no cerne de algumas ideias oriundas da psicanálise, como que a ratificar a tese de que esta última mais se presta hoje em dia como um método para apreciar as criações literárias.
Veja-se, por exemplo, como são possíveis as associações à ideia de "inconsciente coletivo", de Carl G. Jung, ao se ler o poema a seguir transcrito: o que há no mundo se reproduz em cada uma de suas partes e, tanto mais, na mente de cada ser humano. Como que a submergir num conto de Borges, somos tudo de todas coisas: o perpetrador e o redentor; o mal consumado e a matriz do bem; o ocaso de um aparente fim, mas também o brilho ofuscante de uma luz que ousa levantar-se a cada manhã! Sublime, não?!
Aproveito para informar que, além do que se encontra logo a seguir, postarei ainda outros poemas entre os que considerei de maior mérito na referida obra.
Um abraço.
J.A.R./H.C.
A MENTE É UM OCEANO
A mente é um oceano.
Quantos mundos estão ali girando,
misteriosos, apenas vislumbrados?
Como uma taça
flutuando no oceano,
assim é nosso corpo.
Há de encher e ir ao fundo,
sem que nenhuma bolha
assinale o lugar em que repousa.
O espírito está tão próximo que não o vês.
Busca-o! Evita ser o cântaro cheio d'água
cuja boca está sempre seca.
Não te pareças ao cavaleiro
que galopa noite adentro
e não vê a própria montaria.
Referência:
RUMI, Jalal ud-Din. Poemas místicos: Divan de Shams de Tabriz. Seleção, tradução e introdução de José Jorge de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Attar, 2010. p. 109.
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