Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aquilo Que Não Se Pode Aceitar em Caeiro

Ao ler alguns dos belos poemas de Alberto Caeiro, o exímio heterônomo de Fernando Pessoa, encontramos passagens desoladoras, que apontam para a aceitação de planos da realidade de um modo quase determinístico. O que se haveria de comentar do seguinte excerto?

ONTEM O PREGADOR DE VERDADES DELE

(...)
Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria uma passo para alterar
Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
Mil passos que desse para isso
Eram só mil passos.
Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda.
E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.
Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ser iguais.
Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?

(Fernando Pessoa - Alberto Caeiro)

Não lhe parece, leitor, que o autor lusitano não estaria insinuando que nada vale tentar mudar no mundo, se, ao fim, o destino de cada um é o passamento? Não seria uma proposta à inação?

H.C./Augusto

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