Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 31 de outubro de 2009

O onírico, o metafísico e o poético em Fernando Pessoa

Em face da minha ascendência lusitana, sinto-me suficientemente suspeito para falar de Fernando Pessoa. Contudo, isso não me impede de admirar o caráter multifacetado de sua poesia - criação de uma mente multiforme, heteronímica, até mesmo ambivalente. Alguns de seus poemas parecem apoiar sentimentos reflexos já assentes, por exemplo, numa canção que foi sucesso de Milton Nascimento e Tunai, nos anos 80: "Certas canções que ouço / cabem tão dentro de mim / que perguntar carece / como não fui eu que (as) fiz ?" ...! Parodio a dupla mineira então: como não criei a poesia abaixo, se nela encontro autoidentificação ? (JAR/HC).


Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma.

Um comentário:

  1. Hoje ele seria diagnosticado como portador de um grave problema de personalidades múltiplas.

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