Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Walmir Ayala - Arte Poética ‎

Redigir poemas, para o poeta, parece-se com o que ocorre a qualquer um, sem que haja compromisso sério com os resultados da ação ou da inércia, como os fatos naturalísticos do que há no entorno, mediação casual entre as forças vivas e inorgânicas sobre a terra.

Assim, o vate incorpora ao seu próprio “modus vivendi” o ato mesmo de criação das suas composições poéticas, quase as equiparando aos elementos fisiológicos da existência, regulação e metabolismo das vibrações universais de tudo quanto ousa expressar o bem, o belo e o verdadeiro.

J.A.R. – H.C.

Walmir Ayala
(1933-1991)

Arte Poética

A Jorge Octavio Mourão

Faço poema às vezes com a displicência
de um risco sem figura,
como a preguiça de um gesto
sem destino,
às vezes como o adormecimento
no mormaço,
como o tremor de uma lágrima
de espanto;
faço poema às vezes como a faina
de colher flores, de passar os dedos
nas águas, de voltar-me
por não ver nada mais do que sonhava;
faço poema às vezes como a máquina
registra, como o dedo segue
a linha da leitura, como a força
invisível de virar
a página de um livro casual;
mas às vezes faço poema erguendo
um punhal contra a rosa, ou contra mim,
como quem morre e resiste e quer morrer, assim
faço poema, às vezes.

Faço poema sempre como vivo.

Em: “Antologia Poética”;
Editora Leitura. Rio, 1965.

Jovem a Escrever
(Jean-Louis E. Meissonier: pintor francês)

Referência:

AYALA, Walmir. Arte poética. In: BANDEIRA, Manuel; AYALA, Walmir (Orgs.). Antologia dos poetas brasileiros: fase moderna; depois do modernismo. Rio de Janeiro, GB: Edições de Ouro & Tecnoprint, 1967. p. 192-193.

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